Global Analysis

Seis lições de liderança do ELJ2016

Sarah Breuel & Dave Benson nov 2016

Um certo ditado africano diz: ‘Se quiser ir rápido, vá sozinho.Se você quiser ir longe, vá junto.’. Isso foi, em essência, o espírito do Encontro de Líderes Jovens de Lausanne 2016 (ELJ2016).

Há mais de três anos, o Pai tinha a visão de juntar a próxima geração de líderes evangélicos, para que eles pudessem viajar juntos.Ele levantou um time que compartilhava a convicção de que a rica herança do Movimento de Lausanne precisava ser passada para a próxima geração.

Foi assim que mais de mil líderes jovens e mentores de 140 países se encontraram em Jacarta em agosto de 2016. Nós esperávamos e estávamos orando para termos momentos especiais, mas não tínhamos ideia do que o Pai tinha preparado para nós. No geral, leva décadas para vermos os frutos surgirem deste tipo de encontro.No entanto, pela graça divina, Ele já nos permitiu ver frutos arrebatadores na forma de conexões do reino.

Aqui estão seis lições sobre desenvolvimento de liderança que Deus nos ensinou neste processo:

1. Honre a Deus com todo seu coração e Ele abençoará o trabalho de suas mãos

O ELJ foi organizado por “jarros de barro”.Humanamente falando, a sorte não estava do nosso lado.A equipe foi formada por líderes jovens, servindo como voluntários, com tempo limitado e pouca experiência no planejamento de um grande encontro.Contamos com o apoio de uma equipe muito pequena e com um orçamento modesto encaramos os desafios de organizar um encontro global.

No entanto, tínhamos algo do nosso lado. No fundo do coração, sabíamos que esta era a visão de Deus, a batalha de Deus, e, que Ele estava conosco.Nossa única opção era colocar toda a nossa confiança nEle. Ansiosamente buscamos Sua vontade para cada decisão, a oração estava à frente de tudo, pedimos a orientação do Espírito, jejuamos, nos responsabilizamos diante de Deus com relação ao nosso pecado, e nos esforçamos ao máximo para honrar a Deus nas batalhas que vieram junto com o projeto.

Deus não nos desapontou. Ele ouviu nosso clamor, pôs Sua forte mão sobre o encontro, lutou as grandes batalhas por nós, nos deu favor com as autoridades com relação aos vistos, tocou o coração de doadores, chamou pessoas para ajudar em momentos de necessidade de forma sobrenatural, e deixou seu Espírito orquestrar conexões divinas. Acreditamos que essa foi a ‘arma secreta’ do ELJ: um Pai de amor, com uma missão incansável, utilizando uma equipe que sabia que não poderia fazer nada sem Ele.

2. Escolhendo as pessoas certas

O processo cuidadoso de selecionar as pessoas certas valeu a pena. Recebemos milhares de indicações de participantes em potencial e realizamos um rigoroso e extensivo processo seletivo regional, sempre baseado na oração. Os participantes selecionados também precisaram se dedicar ao processo de preparação que durou um ano e arrecadar os fundos pessoais necessários. Como resultado, tivemos participantes de grande calibre, um grupo dedicado e ansioso para ir e contribuir.

Isso foi ainda mais verdadeiro para a equipe de organização. Uma das lições mais preciosas foi a seguinte: ter as pessoas certas servindo no lugar certo pelos motivos certos.

3. O desenvolvimento de liderança é um processo comunitário

A visão do ELJ sempre foi algo maior do que somente o encontro; previmos a comunidade que iria seguir junta.Então, a equipe de planejamento do ELJ2016 foi ambiciosa em sua preparação.Imaginamos um ano com comunicações mensais até o momento do ELJ, planejado para facilitar que “contatos missionários” se tornassem amigos genuínos.O ponto de partida foram chamadas por Skype e, mais tarde, encontros ao vivo para os grupos nacionais/regionais antes do ELJ, formando e unindo grupos de conexão global acompanhados pelos mentores experientes do ELJ.

A tecnologia foi alavancada para servir às conexões em todos os aspectos. Isso incluiu chamadas por Skype, grupos no Facebook, uma família no Whatsapp, e – o mais importante de todos – uma plataforma online segura com aplicativo chamado Connector, que serviu como diretório inteligente para interações significativas.Antes de sequer chegarem em Jacarta para o encontro, nove dentre dez participantes já haviam formado conexões e amizades verdadeiras com outros participantes.O resultado foi uma comunidade que estava viajando junta, como uma só, antes mesmo de se conhecer, com propriedade e empolgação sobre o que Deus iria fazer.

Durante encontro, aproximadamente 200 mil mensagens foram enviadas entre os líderes jovens utilizando o aplicativo Connector. Além disso, em todas as tardes o programa do ELJ era mantido livre, para que se estabelecessem amizades profundas e para a vida toda durante cafés, compartilhamento de experiências e colaborações estratégicas, tais como a emergente parceria regional China-África.

Este é só o começo da jornada.Celebramos a bondade de Deus quando vimos que mais de 82% dos participantes do ELJ decidiram continuar com o que chamamos de “Geração de Líderes Jovens”, um compromisso de dez anos do Movimento de Lausanne para com o desenvolvimento dos participantes através de mentoria, conexões e recursos.[1]

4. Uma geração precisa da outra

Ainda ficamos boquiabertos em pensar que a liderança sênior de Lausanne confiaria o planejamento de um encontro tão crítico a um grupo de líderes jovens. Eles nos empoderaram e andaram lado a lado conosco, sendo exemplos de forma humilde, o que impactou profundamente a nossa equipe. Por nossa vez, fizemos todo o possível para honrá-los, buscar sua sabedoria e orientação e aprender de sua rica experiência.

Durante o encontro, 170 mentores cuidadosamente selecionados, lideraram grupos pequenos e se disponibilizaram para encontrar os líderes jovens em reuniões individuais. Para nossa alegria, tivemos mais de 1.400 reuniões individuais durante a semana e muitos participantes disseram que este foi o destaque do encontro.

Este modelo, de líderes seniores confiando e empoderando os líderes mais jovens, e líderes jovens honrando e aprendendo dos líderes maduros, seria uma boa lição para a igreja global.É um modelo de dependência intergeracional que acreditamos que glorifica a Deus e traz muito fruto, uma vez que somos mais fortes juntos.

5. A melhor conexão para missão global vem através do compartilhamento de histórias

O ELJ2016 foi construído com base na convicção de que nossa mais profunda identidade é estarmos “Unidos na Grande História”.[2] A programação focou em explicitar nossas histórias locais de identidade, propósito, tensão e resolução e juntá-las todas na narrativa-mestre de Deus redimindo o mundo através de Cristo.[3]

Submergimos estes jovens ‘atores’ na história da missão de Deus para ouvirem de forma renovada seu chamado para criar, arrepender-se e abençoar, amar, reconciliar, e adorar. Voltamos nossos ouvidos para sua voz, aprendendo a improvisar de forma fiel no palco em que estamos.[4]

Estes palcos e histórias foram incrivelmente diversos. Como Anne Zaki, nossa irmã egípcia,  disse de forma tão poderosa: “A beleza e o esplendor de Deus não podem ser contidos em um só idioma, ou um só grupo de pessoas, ou um só sexo.”Este encontro nos lembrou que somente juntos somos verdadeiramente a igreja global.

  • Uma participante do Oriente Médio compartilhou como, através das conexões divinas deste encontro, ela está em parceria com uma banda americana de bluegrass e irá viajar pela Índia espalhando o evangelho.
  • Ucranianos, Russos e europeus orara em um coração pelo florescimento da Eurásia.
  • Norte-coreanos, sul-coreanos e americanos compartilharam sua dor e celebraram a promessa de iniciativas que atravessam fronteiras.
  • Cingalêses compartilharam como jovens deixaram a radicalização como resultado de um simples ato de hospitalidade oferecido através de uma refeição compartilhada.

Estas histórias atravessaram a igreja institucional, mundo acadêmico, mercado e organizações missionárias.Elas refletem a imagem de Deus através da verdadeira parceria de homens e mulheres que juntos proclamam o evangelho.Fundiram o Espírito, Palavra e Mundo, unindo anglicanos conservadores, presbiterianos reformados, tradicionalistas sacramentais, batistas baseados na Bíblia e pentecostais passionais como uma única família evangélica.

Através do compartilhamento de histórias, pudemos desenvolver líderes que aprendem a amar a diversidade e celebrar a pluriforme glória de Deus nos rostos e práticas de sua igreja global. O ELJ2016 demonstrou o poder de conectar pessoas através de histórias. Isto representa uma rota indireta para o desenvolvimento de liderança. No entanto, é também a maneira mais estratégica de formar guias sábios para a missão de evangelizar: mostrar e contar a antiga história do reino de Deus de formas novas, em solo não-familiar para dias como os de hoje.

6. Escute o murmúrio na brisa suave

“Contar histórias” exige um público receptivo que ouve atentamente. O desenvolvimento de liderança deve cultivar a atenção ao murmúrio suave de Deus e de nosso vizinho na vizinhança global, desenvolvendo ouvidos que ouvem.

Através do processo de planejamento, Deus nos chamou a esperar, jejuar, orar e diminuirmos o ritmo.Isso se fez presente no encontro.Quase toda sessão incluiu minutos de silêncio total, para ouvir o Deus que fala, e processar o que ouvimos na presença do logos. O pivô de todo o encontro foi a noite de oração, nos identificando com Israel, na fronteira da terra prometida e ansiando pela orientação do Senhor para que seguíssemos adiante.

A missão global depende do discernimento sobre a liderança de Deus; e o coração de Deus pode ser ouvido melhor através dos clamores dos oprimidos e das pessoas que estão no revés da história.[5] Precisamos treinar os líderes para prestar atenção.Do ponto de vista deste propósito, o ELJ2016 foi um poderoso experimento.

Por exemplo, aprendemos tanto com:

  • Ex-jihadistas do Níger que se converteram após sonhar com um homem vestido de branco;
  • Pessoas comuns, mas incrivelmente corajosas do Irã, que enfrentaram confinamento solitário durante meses e anos após falarem abertamente sobre Jesus;
  • Líderes de igrejas domiciliares na China, dirigindo uma rede formada por milhões e planejando enviar 20 mil missionários ao mundo até 2030;[6]
  • Nossas muitas irmãs em Cristo, incluindo uma fragilizada política brasileira que se posicionou contra a corrupção e degradação do meio-ambiente, trazendo sua fé para salvar a Amazônia; e
  • Inúmeros santos do dia-a-dia, que compartilharam suas histórias de vida em pequenos grupos.

Este é o trabalho de Deus, que traduz os sussurros dos marginalizados em uma mensagem para muitos ouvirem, falando da verdade ao poder. Regozijamos-nos quando os líderes jovens voltam seus ouvidos para ouvir os que humildemente tomam a posição de menos honra na nossa mesa de comunhão.Como é incrível amplificar essa voz do reino, ao invés de simplesmente privilegiar nomes famosos do circuito evangélico.

Deus é fiel!

Através do ELJ2016 viajamos juntos – junto com Deus, juntos um ao outro, juntos como igreja global e juntos como gerações.

Colocamos nossa plena confiança em Deus e o servimos com todos nossos corações; e agora podemos testemunhar sua fidelidade, pois Ele fez infinitamente mais do que pedimos ou pensamos.Graças sejam dadas a Deus!

Notas de Rodapé

  1. Editor’s Note: See article entitled ‘Lausanne’s Renewed Engagement in Global Mission: The impact of Cape Town 2010’ by Michael Oh and Justin Schell in the November 2015 issue of Lausanne Global Analysis.
  2. On the centrality of narrative for identity and action, see Lesslie Newbigin, The Gospel in a Pluralist Society (Grand Rapids: Eerdmans, 1989), 15: ‘The way we understand human life depends on what conception we have of the human story. What [then] is the real story of which my life story is part?’ Similarly, Alasdair MacIntyre argues that humans are essentially ‘story-telling animals’: ‘I can only answer the question “What am I to do?” if I can answer the prior question “Of what story or stories do I find myself a part?”’ See his After Virtue, 2nd ed (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press, 1984), 216.
  3. Informing YLG2016’s process of combining deep questions and rich stories to call out the ‘brilliance’ of each participant for global mission, see Mark Strom, Lead with Wisdom: How Wisdom Transforms Good Leaders into Great Leaders (Milton, Qld: Wiley, 2014).
  4. On a dramatic/narrative hermeneutic of Scripture engagement that mobilizes the church for mission, see Christopher Wright, The Mission of God: Unlocking the Bible’s Grand Narrative (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2006); Kevin Vanhoozer, The Drama of Doctrine: A Canonical-linguistic Approach to Christian Theology (Louisville, KT: Westminster John Knox, 2005); N T Wright, The Last Word: Beyond the Bible Wars to a New Understanding of the Authority of Scripture (New York: HarperCollins, 2005), 121-127. The programme structure developed out of the theology of education in David Benson, Schools, Scripture and Secularisation: A Christian Theological Argument for the Incorporation of Sacred Texts within Australian Public Education, unpublished doctoral dissertation, the University of Queensland, ch 5, available at http://espace.library.uq.edu.au/view/UQ:384064.
  5. Embodying this spirituality of humble listening, see the work of Graham Hill in the ‘Global Church’ project at https://theglobalchurchproject.com/. See also his book, Global Church Reshaping Our Conversations, Renewing Our Mission, Revitalizing Our Churches (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2016).
  6. Editor’s Note: See article entitled ‘China’s Conflicting Signals’ by David Ro in the January 2016 issue of Lausanne Global Analysis.