Se você deseja que alguém ouça a verdade, deve contar-lhe a verdade.Mas se deseja que alguém ame a verdade, deve contar-lhe uma história.
— Andrew Peterson, músico e autor cristão
Nota da Editora: Este artigo é a quarta e última parte de uma série sobre evangelismo no local de trabalho. Na Parte 1, argumentamos que o campo missionário mais estratégico hoje é o local de trabalho. Na Parte 2, discutimos “como fazer”: De que forma os cristãos que não têm o dom do evangelismo podem compartilhar o evangelho de forma eficaz em seu local de trabalho? Na Parte 3 desta série, examinamos os fatores que estabelecem uma comunicação sábia e identificamos momentos apropriados para falar sobre fé no ambiente de trabalho. Neste artigo, a Parte 4, apresentamos uma maneira sutil, porém convincente, de promover conversas sobre o evangelho no ambiente de trabalho, avaliar o interesse espiritual de uma pessoa e despertar sua curiosidade sobre a fé cristã.
Em sua função de embaixador de Cristo no ambiente de trabalho, a quem você falaria? Ateus, agnósticos ou pessoas de outras religiões? Clientes ou colegas de trabalho indiferentes ou hostis a Deus? Agora visualize esses indivíduos em sua mente e imagine-se conversando com cada um deles. Pense no que você diria para despertar sua curiosidade, para mantê-los atentos o tempo suficiente para que aprendam que Deus os ama e deseja que experimentem vida abundante na terra e na eternidade em sua presença por meio de um relacionamento com Jesus. Se esse tipo de conversa lhe causa mal-estar, você não é o único. No entanto, é bem mais simples do que você pensa.
Com a variedade de tecnologias e de estratégias disponíveis hoje, é fácil ficar obcecado pelas ferramentas e técnicas de evangelismo – vídeos fascinantes, posts incríveis no Instagram, novas abordagens acrósticas, os mais recentes argumentos apologéticos – tudo isso pode ser útil. Mas as pessoas precisam de mais. Tim Keller, refletindo sobre como falar de Jesus aos frequentemente hostis nova-iorquinos, afirmou: “A menos que a pessoa ache nossa conversa sobre Cristo surpreendentemente convincente (do tipo que destrói estereótipos), seus olhos simplesmente ficarão vidrados enquanto tentamos falar com ela”.[1]
Todos nós precisamos de informações, respostas e argumentos racionais, mas somos todos “seres inquietos” – tateando o caminho da vida na tentativa de encontrar o que estamos perdendo, muitas vezes sem saber sequer o que procuramos.[2] Ajudar as pessoas a entender que seus mais profundos anseios são satisfeitos em Cristo pode despertar uma curiosidade irresistível. E se você é capaz de contar uma história, vai conseguir fazer isso.
Certamente, Jesus tinha consciência disso e oferecia às pessoas mais do que fatos. Através das histórias que contava, ele atendia às necessidades mais profundas. Ao moldar a informação ao significado, ele oferecia aos seus ouvintes a chance de visualizar e experimentar a verdade de formas tangíveis, que atiçavam seu interesse. Quando quis despertar as pessoas para a impressionante maravilha do surpreendente amor do Pai, ele não lhes falou sobre o amor de Deus somente, mas contou-lhes uma história que tocou seus anseios mais profundos: a parábola do filho pródigo.[3] Para que um escriba fariseu compreendesse o que significava amar o próximo, Jesus contou-lhe a história do bom samaritano, levando o homem a refletir sobre suas noções limitadas de amor, sobre a abrangência de quem era seu próximo e até onde ia sua obrigação com ele.
Histórias têm poder
Segundo Alasdair MacIntyre, somos “animais contadores de histórias”.[4] Quando evangelizamos, portanto, as histórias devem povoar nossas conversas espirituais. Em vez usar fatos para bater na porta da frente da mente de uma pessoa, muitas vezes trancada por dentro, uma história possibilita que a verdade acesse o coração pela porta dos fundos.
Para encontrarmos a porta dos fundos do coração de alguém, precisamos primeiramente ouvir essa pessoa. O ato bem-sucedido de contar histórias é sempre uma via de mão dupla. Se nossa intenção é contar histórias sobre Jesus, devemos primeiro ouvir as histórias de outras pessoas. Em suas conversas no ambiente de trabalho esta última semana, que experiências você ouviu de seus colegas? Como eles gastam seu tempo ou quais são suas prioridades? Quais são as suas experiências espirituais – sejam positivas ou negativas – suas alegrias e dores, seus sucessos e desafios? Que lugar Deus ocupa em suas vidas – se é que ocupa algum lugar? Levar as pessoas a contar trechos de suas histórias pode começar simplesmente com “Fale-me sobre você”, seguido por uma pergunta sobre um detalhe do que foi compartilhado.
Aproveitar o gancho de um comentário sobre uma ocasião semelhante em que Deus atendeu a uma necessidade significativa em sua vida pode criar uma conexão entre a sua história e a deles. Associar as duas histórias pode fazer com que eles tenham uma ideia de como é ser filho de Deus e dos benefícios de um relacionamento com ele, como, por exemplo, um momento em que ele o envolveu com uma sensação de paz em meio à dor ou à perda. Sua história pode ser contada em menos de um ou dois minutos, mas um detalhe que se conecte a uma necessidade ou circunstância na vida do ouvinte poderá despertar perguntas e abrir portas para conversas mais profundas. Histórias eficazes podem levar as pessoas a “baixar a guarda” e ouvir com a mente aberta.
Como preparação para oportunidades futuras, reflita sobre as conversas que você teve no trabalho recentemente. Que preocupações foram expressas – medo, ansiedade, frustração, raiva, alegria, reconhecimento, paz? Você teve uma experiência semelhante em que seu coração foi tocado pela palavra de Deus ou uma necessidade específica que tenha sido suprida por ele? Aprendeu uma lição ou começou a enxergar algo diferente pela perspectiva divina?
Histórias podem começar com algo tão simples como uma menção casual à nossa fé durante uma conversa corriqueira. Pode ser uma resposta a uma pergunta sobre algo tão banal como os nossos planos para o fim de semana. Por exemplo: “Vou dar um jeito no meu quintal e falar na minha igreja sobre cura e divórcio” ou “Vou treinar um time de outro bairro para um jogo das eliminatórias” ou “Vou jogar golfe com amigos e ir à igreja no domingo”. Compartilhar um aspecto de como gastamos nosso tempo revela às pessoas o que é importante para nós – isso pode surpreender o ouvinte e levá-lo a perguntar mais sobre o que nos move a fazer o que fazemos. A curiosidade dele pode abrir uma porta para que você conte uma história que explique um pouco mais sobre a importância da fé na sua vida.
O poder da nossa história
Quando sentirmos que Deus está agindo na vida das pessoas com quem partilhamos histórias de fé, talvez seja o momento de contar a nossa melhor história – o nosso próprio testemunho de como Deus nos atraiu para a fé em Cristo.
Não sabemos quando Deus abrirá a porta de um coração, por isso devemos estar sempre preparados para partilhar o evangelho com uma alma que tem fome. O ponto central do evangelho é o fato histórico da morte substitutiva e da ressurreição corporal de Cristo. Enviado ao mundo pelo amor do Pai, Jesus morreu em nosso lugar, recebendo o castigo que merecemos, para que pudéssemos nos reconciliar com Deus, viver uma vida abundante e estar com ele por toda a eternidade.
Quando entrelaçamos esses fatos à história da nossa jornada pessoal de fé, é difícil sermos contestados, afinal é a nossa história. O testemunho de Paulo perante o rei Agripa é um exemplo simples e claro que podemos seguir para contar a nossa própria história:[5]
1. Um resumo de sua vida antes de conhecer Jesus
2. Uma descrição de como ele conheceu Jesus
3. Um resumo de sua vida depois de conhecer Jesus.
Há muitos recursos que ajudam você a lapidar sua história de salvação. Um dos mais eficazes está no currículo de treinamento de discipulado da Série 2:7, da Navigators.[6]
Histórias de fé podem gerar conversas que despertam a fé – mas também podem suscitar perguntas e objeções cujas merecidas respostas talvez não estejamos preparados para oferecer. Questões mais profundas da apologética estão além do escopo destes artigos,[7] mas podemos, no mínimo, indicar colegas sinceros que possam responder a questionamentos legítimos. Livros como Mero Cristianismo, de C. S. Lewis, há décadas ajuda muitos céticos a encontrar Cristo. Outros recursos disponíveis, impressos ou online, podem ser encontrados nas notas de rodapé.[8]
Falando com Jesus sobre as pessoas
Como observamos em artigos anteriores, a propagação rápida e de longo alcance do evangelho nos primeiros séculos deveu-se, em grande parte, à mobilização em massa de cristãos comuns que praticaram sua fé em seu local de trabalho. Mais importante ainda, porém, foi sua persistência na oração. Eles acreditavam nas palavras de Jesus: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44); portanto, não nos surpreende perceber o papel vital da oração no registro histórico de todo o livro de Atos.[9]
Certamente contamos com mais vantagens do que a igreja primitiva, porém não temos mais poder do que eles. E se não somos capacitados pelo Espírito por meio da oração, temos menos poder ainda.
Há diversas passagens bíblicas que podem nos ajudar a orar especificamente por colegas de trabalho e amigos com quem nos encontramos com frequência. Podemos orar:
- para que o Pai os atraia para si (Jo 6.44).
- para que eles venham a conhecer e aceitar a verdade do evangelho (Rm 10.17; 1Ts 2.13).
- para que Satanás não os cegue, impedindo-os de ver a verdade (Mt 13.19; 2Co 4.4).
- para que o Espírito Santo os convença do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8–13).
- para que Deus envie outros cristãos para influenciar suas vidas e direcioná-las para Jesus (Mt 9.37–38)
- para que creiam em Jesus como seu Salvador (Jo 1.12; 5.24).
- para que se arrependam de seus pecados e confessem Jesus como seu Senhor (At 3.19; 17.30–31; Rm 10.9–10).
- para que cresçam em Jesus (Cl 2.6–7).
Também podemos orar por nós mesmos e por outros colegas cristãos. Muitas passagens bíblicas nos fazem lembrar da confiança que temos em Deus como embaixadores de Cristo no local de trabalho. Podemos orar:
- para que façamos um trabalho excelente que atraia a atenção de outros e glorifique a Deus (Pv 22.29; Mt 5.16).
- para que tratemos as pessoas com cortesia e tenhamos uma boa reputação junto aos incrédulos (Cl 41; 1 Ts 4.12).
- para que nossas conversas sejam sábias, agradáveis, cheias de sensibilidade e graça (Cl 4.5–6).
- para que estejamos atentos às portas que se abrem e tenhamos ousadia e destemor para entrar (Cl 4.3; Ef 6.19).
- para que sejamos capazes de explicar claramente o evangelho (Cl 4.4).
A oração, associada à comunicação com sabedoria, fundamentada na boa obra, no caráter piedoso e na preocupação genuína, convida Deus a agir no nosso local de trabalho – onde cada interação com cada pessoa é espiritualmente significativa.
Para concluir
Enquanto você, pastor, evangelista ou missionário reflete sobre esses quatro artigos, oramos para que perceba a natureza estratégica do ambiente de trabalho para a Grande Comissão e a importância de ajudar os seguidores de Cristo que atuam no local de trabalho, “os 99%”, a assumir o seu lugar. Mas lembre-se, eles são lagartos e não sapos. Precisam de validação, encorajamento, capacitação e inspiração para que percebam o valor do seu trabalho para o reino de Deus e mostrem, graciosamente, o caminho para Cristo àqueles com quem trabalham e convivem. Eles podem mudar o mundo.
Você, seguidor de Cristo no local de trabalho, esperamos que reconheça o imenso valor da obra que realiza. Seu trabalho é importante para Deus. Também esperamos que perceba que a obra missionária começa onde você trabalha. Pode levar a outro lugar, mas começa no seu local de trabalho, onde você pode ajudar colegas e cooperadores a dar mais um passo rumo a um relacionamento com Cristo hoje. É um processo. Será lento. Mas Deus está agindo através de você e o chama para se unir à multidão de crentes que o antecederam, que assumiram o seu papel como embaixadores de Cristo no trabalho. Você está mudando o mundo.
Notas finais
- “Defeater Beliefs and a Gospel Sandwich,” https://www.timcasteel.com/2010/10/defeater-beliefs-and-a-gospel-sandwich/
- Joshua D. Chatraw and Mark D. Allen, Apologetics at the Cross: an introduction for Christian witness in late modernism, (Grand Rapids, MI: Zondervan Academic, 2018), 174.
- Luke 10:25-37
- Alasdair MacIntyre, After Virtue: A Study in Moral Theory, 3rd ed. (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2008) 216.
- Acts 26:2-29.
- https://www.navigators.org/resource/the-27-series.
- Se você quiser se aprofundar, recomendamos Joshua D. Chatraw and Mark D. Allen, Apologetics at the Cross: An introduction for Christian witness in late modernism, (Grand Rapids, MI: Zondervan Academic, 2018).
- Os livros The Reason for God e Making Sense of God, de Tim Keller, bem como Confronting Christianity, de Rebecca McLaughlin, e Street Smarts: Using Questions to Answer Christianity’s Toughest Challenges, de Gregory Koukl, ensinam a usar perguntas socráticas. O site Got Questions (https://www.gotquestions.org/) é uma enciclopédia online com respostas a perguntas sobre Deus, Jesus, a Bíblia e sobre teologia. O site What Would You Say (https://whatwouldyousay.org/) oferece respostas rápidas a perguntas difíceis do cristianismo através de vídeos de 5 minutos.
- Atos 1:14, 24; 2:42, 47; 4:24, 31; 8:15; 9:11, 40; 10:9, 30-31; 12:5; 13:3; 14:23; 15:25; 20:36; 21:5; 26:29; 28:8.