O Movimento de Lausanne trabalha para ver a igreja no mundo inteiro engajada em um movimento missionário global que seja intercultural, intergeracional, policêntrico e polifônico, incluindo também pessoas dos mais variados segmentos profissionais, sem a convencional divisão entre sagrado e secular, por meio do qual homens e mulheres sirvam a Cristo em unidade. Nosso desejo é que Cristo seja conhecido em todos os lugares, que seja exaltado em honra e glória. Essa é a nossa visão.
Com esse objetivo, receberemos os participantes do Quarto Congresso de Lausanne sobre Evangelização Mundial que se realizará em Incheon, Coreia do Sul, em setembro deste ano. O tema do Congresso é “Que a igreja anuncie e demonstre Cristo, unida”.
Lições de Atos
O Quarto Congresso de Lausanne terá como base o livro de Atos. Vamos explorar seis temas específicos do livro e procurar aplicar as lições da igreja primitiva ao nosso contexto contemporâneo.
A obra do Espírito Santo
Vamos analisar a poderosa presença do Espírito Santo no livro de Atos. Que o Espírito de Deus traga novamente à igreja global o seu fogo revivificador, assim como lemos no segundo capítulo de Atos. Veremos como o mover de Deus continua espantosamente operando pelo poder do seu Espírito e [mobilizando a igreja] para a obra missionária global e a evangelização do século 21.
Comunidade missional
Analisaremos as novas expressões da igreja. À medida que os primeiros crentes ouviam os ensinamentos dos apóstolos, sua fé crescia; no partir do pão, sua esperança era fortalecida; na comunhão e na oração, seu amor se aprofundava. Era uma comunidade marcada pela santidade, pela integridade e pelo temor do Senhor.
A perseguição e a obra missionária global
Vamos examinar a reação da igreja primitiva à severa perseguição e como Deus, de maneira nunca vista, abriu novas portas em meio ao sofrimento. O poder foi descentralizado e chegou a lugares afastados.
Testemunho cristão no local de trabalho
No livro de Atos, há inúmeras referências ao avanço do evangelho em diversos locais de trabalho, desde centros provinciais de governo e centros intelectuais, culturais e filosóficos até áreas mais comuns da existência humana cotidiana. Esse impacto que ultrapassa os limites das cidades é hoje ainda mais relevante do que nunca.
O líder servo
Este tema, fundamental no livro de Atos, enfatiza a humildade, a compaixão pastoral, a fidelidade, o sacrifício e a renúncia pessoal. O livro de Atos destaca o que significa ter uma atitude de servo à luz do ensino e do exemplo de Cristo e a maneira como isso se manifesta na vida dos apóstolos e daqueles aos quais foi confiada a responsabilidade pela igreja do Novo Testamento.
Cristo é Senhor
Enquanto navegamos pelas águas de um futuro incerto, reconhecemos que Cristo é o Senhor. O evangelho deve ser proclamado até os confins do mundo, com ousadia e sem impedimentos, assim como fez Paulo mesmo quando estava em prisão domiciliar (At 28).
Que a igreja
Queremos ver o Quarto Congresso de Lausanne despertar na igreja global um senso de urgência e a necessidade de uma colaboração mais profunda e rica para testemunhar de Jesus Cristo e de tudo o que ele ensinou – em todas as nações, em todas as esferas da sociedade e no campo das ideias. Em meio a conflitos mundiais, guerras e pragas, há um apelo urgente à igreja global para a evangelização mundial, a fim de que o evangelho chegue os confins da terra, conforme ordenou nosso Senhor Jesus Cristo.
A igreja global deve ser um testemunho vivo ao mundo de que a paz está em Jesus Cristo. A nova sociedade de Deus é caracterizada pela vida em lugar da morte, pela unidade e reconciliação em lugar de divisão e separação, por padrões saudáveis de justiça em lugar da corrupção da maldade, pelo amor e pela paz em lugar do ódio e da contenda, e por um combate incessante contra o mal em lugar de uma resignação complacente.[1]
Durante todo o Congresso, ouviremos as vozes da igreja global. Enquanto celebramos o que Deus está realizando em todo o mundo, buscamos em Deus sua misericórdia e força em locais de perseguição e conflito.
Cremos que Deus está chamando a igreja global para trabalhar unida, tendo sabedoria para empreender ações que sirvam aos propósitos de Deus na nossa geração. Nas sessões de discussão no período da tarde, teremos a incrível oportunidade de encarar as principais “lacunas no cumprimento da Grande Comissão” e propor soluções. Estamos comprometidos a trabalhar juntos para acelerar a obra missionária global.
Anuncie e demonstre Cristo
Queremos ver a igreja global mais uma vez encorajada a anunciar e demonstrar Cristo ao mundo. É possível que nossa hesitação seja uma das maiores barreiras à evangelização mundial. Devemos superar o sentimento de culpa e a tendência de nos silenciarmos diante da hostilidade à proclamação do evangelho. Pedro, um homem transformado pelo poder do Espírito Santo, declarou: “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). Quando foram proibidos de falar novamente em nome de Jesus, Pedro e João responderam: “Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (At 4.19-20).
Todo nosso empenho é para que Cristo tenha a preeminência e seja honrado no mundo. É nosso desejo ardente ver o cumprimento da nossa oração: “Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” (Sl 115.1). É um reconhecimento de que Deus, o Pai, o exaltou “muito acima de todo nome que se possa mencionar” (Ef 1.21) e, de fato, “lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor” (Fp 2.9-11)
Damos testemunho da verdade de Cristo num mundo pluralista e globalizado. Construímos a paz de Cristo em nosso mundo dividido e corrompido. Demonstramos o amor de Cristo a pessoas de outras religiões. Discernimos a vontade de Cristo para a evangelização mundial. Somos parceiros no corpo de Cristo para gerar unidade na obra missionária. Ansiamos ver toda a igreja global anunciando e demonstrando todo o evangelho de Jesus Cristo ao mundo inteiro. A mensagem do evangelho são as boas novas de Deus, por meio da cruz e da ressurreição de Jesus Cristo, para indivíduos, para a sociedade e para a criação.
Demonstramos o evangelho através de nossas vidas e pregamos o evangelho com nossas palavras. Procuramos anunciar e demonstrar Cristo no mundo com expressões criativas multidimensionais. Toda a nossa missão deve refletir a integração do evangelismo e o envolvimento comprometido no mundo. “Se ignorarmos o mundo, traímos a Palavra de Deus, [. . .] Se ignorarmos a Palavra de Deus, não teremos nada para oferecer ao mundo”.[2]
Nas sessões plenárias do Quarto Congresso de Lausanne, abordaremos como a igreja global anuncia e demonstra Cristo no contexto atual, incluindo, entre muitas outras questões, conflitos globais, cuidado com a criação, questões de justiça, sexualidade e gênero, perseguições e ministérios no local de trabalho.
Unida
A palavra grega homothumadon – que significa “unanimemente” ou “reunidos unânimes” – aparece doze vezes no Novo Testamento; dez delas no livro de Atos. O termo destaca a singularidade e unidade da comunidade cristã. Na primeira reunião de oração registrada em Atos, os primeiros discípulos oraram unânimes (At 1.14). Quando a igreja enfrentou perseguição, eles clamaram juntos ao Senhor: “Ó Soberano [Senhor]…” (At 4.24). A igreja de Jerusalém, depois de muito debate, decidiu de forma unânime enviar por meio de Paulo e Barnabé uma carta de encorajamento à igreja gentílica [em Antioquia] (At 15.25).
Paulo nos ensina que a unidade cristã é gerada em Deus, fundamentada na nossa reconciliação com Deus e uns com os outros. Essa dupla reconciliação foi realizada por meio da cruz.[3] No congresso que se aproxima, buscamos uma unidade mais profunda de compromisso com ações colaborativas que têm como base as necessidades observadas no processo de escuta de Lausanne e no Relatório de Status da Grande Comissão (a ser divulgado no segundo trimestre deste ano).
As ações colaborativas estarão divididas em sete categorias, que não se limitam a elas:
Alcançar povos: como podem ser alcançados os blocos populacionais emergentes, incluindo a diáspora, as pessoas com deficiência, a geração mais jovem, os estudantes internacionais, os idosos, os povos tribais e nativos e outros?
O ministério na era digital: incluindo a Bíblia, formatos da igreja e discipulado, bem como o evangelismo na era digital.
Compreendendo a humanidade: incluindo inteligência artificial (IA), sexualidade e gênero e saúde holística.
Missões policêntricas: incluindo a mobilização de recursos policêntrica.
Missão e santidade: incluindo espiritualidade e obra missionária, integridade e formação de caráter da liderança.
Testemunhando em diferentes comunidades: explorando de que forma os cristãos interagem com pessoas de outros sistemas de crenças, tanto no trabalho para o bem comum como na proclamação do evangelho.
Interação social: explorando a dimensão social da lacuna e o impacto do reino, incluindo educação, meios de comunicação e entretenimento, saúde física e mental, governo/política, ciência, questões ambientais, tecnologia e inovação.
Requer que toda a igreja de Deus se envolva na obra missionária global. Envolve a participação de líderes religiosos e missionários, profissionais e seus ambientes de trabalho, indivíduos, casais e famílias, homens e mulheres, jovens e idosos, e cristãos de diferentes origens étnicas e culturas. Somente se estivermos juntos poderemos ir adiante.
Que o Senhor nos ajude a buscar essa visão por meio do Quarto Congresso de Lausanne. Que a igreja anuncie e demonstre Cristo, unida.
Endnotes
- J. R. W. Stott, God’s New Society: The Message of Ephesians (Westmont, IL:InterVarsity Press, 1979), 8–10.
- Movimento de Lausanne, Compromisso da Cidade do Cabo (Parte I-10).
- Movimento de Lausanne, Compromisso da Cidade do Cabo (Parte II-F).