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Um chamado para toda a Igreja para levar todo o Evangelho a todo o mundo

Introdução

Em julho de 1974 celebrou-se, em Lausanne (Suíça), o Congresso Internacional de Evangelização Mundial e se proclamou o Pacto de Lausanne. Agora, em julho de 1989, mais de 3.000 pessoas de 170 países, reuniram-se em Manila com o mesmo propósito e proclamaram o Manifesto de Manila. Agradecemos as boas-vindas que recebemos dos nossos irmãos filipinos.

Durante os 5 anos entre os congressos, foram celebrados alguns congressos menores com temas como o Evangelho e a Cultura, a Evangelização e a Responsabilidade Social, um Estilo de Vida Simples, e o Espírito Santo e a Conversão. Estas reuniões e suas informações têm ajudado a desenvolver o pensamento do movimento de Lausanne.

Um “manifesto” se define como uma declaração pública de convicções, intenções e motivações. O manifesto de Manila toma os temas dos congressos: “Proclamar a Cristo até que Ele venha” e “Chamando toda a Igreja para levar todo o Evangelho a todo o mundo.” Sua primeira parte é uma série de afirmações curtas. Sua segunda parte as elabora em doze sessões, que apresentamos as Igrejas para que, junto com o Pacto de Lausanne, sejam estudadas e levadas à prática.

Vinte e uma Afirmações

1. Afirmamos nosso permanente compromisso com o Pacto de Lausanne como base de nossa colaboração dentro do Movimento de Lausanne.

2. Afirmamos que, tanto no Antigo como no novo Testamentos, Deus nos tem dado uma revelação autorizada de seu caráter e vontade, de seus atos redentores e o significado deles, e de seu mandato para a missão.

3. Afirmamos que o Evangelho Bíblico é a mensagem permanente de Deus para nosso mundo, e nos comprometemos a defendê-lo, proclamá-lo e encarná-lo.

4. Afirmamos que os seres humanos, ainda que criados a imagem de Deus, são pecadores e culpados, perdidos sem Cristo, e que essa verdade precede necessariamente o Evangelho.

5. Afirmamos que o Jesus da história e o Cristo da glória são a mesma pessoa, e que este Jesus Cristo é absolutamente único, pois somente Ele é o Deus encarnado, que carregou nossos pecados, conquistou a morte e voltará como juiz.

6. Afirmamos que na cruz, Jesus Cristo tomou nosso lugar, levou nossos pecados, morreu a nossa morte, e que somente por essa razão, Deus perdoa gratuitamente aqueles que são levados ao arrependimento pela fé.

7. Afirmamos que as demais religiões e ideologias não são caminhos alternativos para chegar a Deus, e que a espiritualidade humana, se não tiver sido redimida por Cristo, leva ao juízo e não a Deus, pois Cristo é o único caminho.

8. Afirmamos que devemos mostrar o amor de Deus de maneira visível, cuidando dos que carecem de justiça, dignidade, alimento e abrigo.

9. Afirmamos que a proclamação do Reino de Deus, que é de justiça e paz, exige a denúncia de toda injustiça e opressão, tanto pessoal como estrutural. Não nos omitiremos em dar esse testemunho profético.

10. Afirmamos que o testemunho do Espírito Santo a respeito de Cristo é indispensável para a evangelização e que, sem sua obra sobrenatural, não são possíveis nem o novo nascimento, nem a nova vida.

11. Afirmamos que a luta espiritual requer armas espirituais, e que devemos pregar a Palavra no Poder do Espírito e orar sem cessar para participarmos da vitória de Cristo sobre os principados e potestades do mal.

12. Afirmamos que Deus tem encomendado a toda a Igreja e a cada um de seus membros a tarefa de fazer Cristo conhecido em todo o mundo. Almejamos que todos, sejam leigos ou ministros, estejam mobilizados e capacitados para essa tarefa.

13. Afirmamos que nós, membros do Corpo de Cristo, devemos superar as barreiras de raça, sexo e classe social dentro da nossa comunidade.

14. Afirmamos que os dons do Espírito Santo são repartidos para todo o povo de Deus, mulheres e homens, e que deve ser bem-vinda a participação de todos na evangelização para o bem comum.

15. Afirmamos que nós, que proclamamos o Evangelho, devemos exemplificá-lo vivendo santidade e amor. Caso contrário, nosso testemunho perde sua credibilidade.

16. Afirmamos que toda congregação cristã deve voltar-se para comunidade em que se encontra inserida, através do testemunho evangelístico e do serviço de compaixão.

17. Afirmamos a necessidade urgente de que as Igrejas, agências missionárias e outras instituições cristãs colaborem mutuamente na evangelização e ação social, repudiando a competição e evitando a duplicação de esforços.

18. Afirmamos que é nosso dever estudar a sociedade na qual vivemos a fim de entender suas estruturas, seus valores e suas necessidades, e desta maneira, desenvolver uma estratégia missionária adequada.

19. Afirmamos que a evangelização do mundo é urgente e que é possível alcançar os povos não alcançados. Portanto, decidimos que nos dedicaremos a esta tarefa com vigor renovado durante a última década do Século XX.

20. Afirmamos nossa solidariedade com os que sofrem pelo Evangelho, e procuramos nos preparar para a possibilidade de sofrer da mesma maneira. Também lutaremos em favor da liberdade religiosa e política em todas as partes.

21. Afirmamos que Deus está chamando toda a Igreja para levar todo o Evangelho a todo o mundo. Comprometemo-nos, portanto, a proclamá-lo com fidelidade, urgência e sacrifício até que ele venha.

A. Todo o Evangelho

O Evangelho é a boa nova da salvação de Deus para o livramento dos poderes do mal. É, portanto, a instauração do Seu Reino eterno e de Sua vitória final sobre tudo que se oponha aos Seus propósitos. Em seu amor, Deus planejou isso antes que o mundo fosse criado, e colocou seu plano libertador em prática através da morte do nosso Senhor Jesus Cristo, que nos livra do pecado, da morte e do juízo. É Cristo quem nos faz livres e nos une ao nos incorporar na comunidade dos redimidos.

(Colossenses 2:15; 1 Coríntios 15:24-28; Efésios 1:4; Colossenses 1:19; Tito 2:14)

1. A Condição Humana

Nós estamos comprometidos em pregar todo o Evangelho, isto é, o Evangelho bíblico em toda sua plenitude. Para isso, devemos entender por que ele é tão necessário para os seres humanos.

Os homens e mulheres têm uma dignidade e um valor intrínsecos por terem sido criados à imagem de Deus, para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-lo. Agora, por consequência do pecado, cada aspecto da sua humanidade foi distorcido. Os seres humanos se tornaram rebeldes e egocêntricos, servindo a si mesmos e não amando a Deus nem ao seu próximo como deveriam fazê-lo. Como consequência, estão alienados, tanto do seu Criador como do resto da criação. Este é o principal motivo da dor, da desorientação e solidão que faz tanta gente sofrer hoje em dia. Muitas vezes o pecado se manifesta sob as formas de conduta antissocial, exploração violenta dos outros, e desgaste dos recursos da terra, da qual Deus fez homens e mulheres mordomos. A humanidade é culpada, sem justificativas e segue o largo caminho que conduz a destruição.

Apesar de a imagem de Deus ter sido corrompida nos seres humanos, eles ainda são capazes de reconciliarem-se uns com ou outros em amor, de realizar ações nobres e criar lindas obras de arte. Ainda assim, até a mais nobre das realizações humanas está fatalmente manchada e o homem não tem condições de ter acesso a Deus. Homens e mulheres são seres espirituais, mas práticas espirituais e técnicas de autoajuda só podem, quando muito, aliviar as necessidades que sentem, sendo incapazes de solucionar os problemas transientes do pecado, da culpa e do juízo.

Nem a religião humana, nem a justiça humana, nem os programas sócio-políticos podem salvar alguém. Não existe possibilidade alguma de que o ser humano se salve por si mesmo. Abandonadas em si mesmas, as pessoas estão perdidas para sempre.

De modo que repudiamos os falsos evangelhos que neguem a realidade do pecado humano, o juízo divino, a divindade e encarnação de Jesus Cristo e a necessidade da cruz e ressurreição. Da mesma maneira, rejeitamos evangelhos incompletos, os quais não levam a sério o pecado e confundem a graça de Deus com o esforço humano. Confessamos que às vezes, nós mesmos temos banalizado o Evangelho.  Mas nos comprometemos a levar em conta, em nossa evangelização, o diagnóstico definitivo que Deus faz do pecado, e o remédio, igualmente definitivo que Deus tem providenciado.

(Atos 20:27; Gênesis 1:26, 27; Romanos 3:9-18; 2 Timóteo 3:2-4; Gênesis 3:17-24; Romanos 1:29-31; Gênesis 1:26, 28; 2:15; Romanos 1:20; 2:1; 3:19; Mateus 7:13; Mateus :46; 7:11; 1 Timóteo 6:16; Atos 17:22-31; Romanos 3:20; Efésios 2:1-3; Gálatas 1:6-9; 2 Coríntios 11:2-4; 1 João 2:22, 23; 4:1-3; 1 Coríntios 15:3, 4; Jeremias 6:14; 8:11)

2. Boas novas para hoje

Alegramo-nos no fato de que o Deus Vivo não nos abandonou em nossa perdição e falta de esperança. Em Seu amor, Ele veio nos encontrar em Jesus Cristo para nos resgatar e restaurar. Dessa maneira, as boas novas se encontram na pessoa histórica de Jesus, que veio proclamar o Reino de Deus e vivendo uma vida de humilde serviço, morreu por nossos pecados, sendo feito pecado e maldição em nosso lugar. É aquele a quem Deus justificou levantando-o dos mortos. Aos que se arrependem e creem em Cristo, Deus compartilha a nova criação. Ele nos dá nova vida, a qual inclui o perdão de nossos pecados e a presença e o poder transformador de Seu Espírito. Ele nos recebe em Sua nova comunidade, a qual é composta de pessoas de todas as raças, nações e culturas. E Ele promete que um dia nós entraremos em Seu novo mundo, do qual o pecado será abolido, a natureza será redimida e Deus reinará para sempre.

Estas boas novas devem ser ousadamente proclamadas em todos os lugares possíveis: nas Igrejas e nos auditórios públicos, nos rádios e televisão, e ao ar livre, porque ela é o poder de Deus para a salvação e somos obrigados a fazê-las conhecidas. Em nossa pregação devemos declarar fielmente a verdade conforme Deus tem revelado na Bíblia, nos esforçando para torná-la relevante em nosso próprio contexto.

Também afirmamos que a apologética, isto é, “a defesa e confirmação do Evangelho” (Filipenses 1:7), é essencial para a compreensão bíblica da missão e para um testemunho efetivo no mundo moderno. Paulo “debatia” com algumas pessoas a partir das Escrituras, com o objetivo de “persuadi-las” com a verdade do Evangelho. Devemos agir desta mesma forma. Assim, todos os cristãos devem estar prontos para dar a razão da esperança que há neles (1 Pedro 3:15).

Outra vez temos visto a ênfase de Lucas no Evangelho, como boas novas para os pobres (Lucas 4:18; 6:20; 7:22), e temos nos perguntado o que significa isto para a maioria da população mundial – que são pobres, afligidos ou oprimidos. Lembramos que a lei, os profetas e os livros de sabedoria, assim como os ensinamentos e ministério de Jesus, enfatizam a preocupação de Deus pelos materialmente pobres e que é nosso dever nos interessar por eles e protegê-los. As Escrituras também se referem aos espiritualmente pobres, que só alcançarão misericórdia se olharem para Deus. O Evangelho são as boas novas para ambas as classes. Os pobres de espírito que, independentemente de sua situação econômica, se humilham ante Deus, recebem por fé o dom gratuito da salvação. Não há para ninguém qualquer outra maneira de entrar no Reino de Deus. Os materialmente pobres e indefesos, encontram nova dignidade como filhos de Deus e no amor de irmãos e irmãs, que lutam com eles por sua liberação de todos que os degradam e oprimem.

Arrependemo-nos de qualquer negligência que tivemos para com a verdade de Deus nas Escrituras e nos comprometemos a proclamá-la e defendê-la. Também nos arrependemos de termos sido indiferentes ao clamor do pobre e por haver mostrado preferência ao rico, e nos comprometemos a seguir a Jesus na pregação das boas novas a toda pessoa, em palavra e obra.

(Efésios 2:4-7, Lucas 15; 19:10; Atos 8:35; Marcos 1:14, 15; 2 Coríntios 5:21; Gálatas 3:13; Atos 2:23, 24; 2 Coríntios 5:17; Atos 2:38, 39; Efésios 2:11-19; Apocalipse 21:1-5; 22:1-5; Efésios 6:19, 20; 2 Timóteo 4:2; Romanos 1:14-16; Jeremias 23:28; Filipenses 1:7; Atos 18:4; 19:8, 9; 2 Coríntios 5:11; 1 Peter 3:15; Lucas 4:18; 6:20; 7:22; Deuteronômio 15:7-11; Amós 2:6, 7; Zacarias 7:8-10; Provérbios 21:13; Sofonias 3:12; Mateus  5:3; Marcos 10:15; 1 João 3:1; Atos 2:44, 45; 4:32-35)

3. A singularidade de Jesus Cristo

Somos chamados para proclamar o Evangelho de Cristo em um mundo cada vez mais pluralista. Há um ressurgimento de religiões antigas e o nascimento de outras novas. No primeiro século também havia “muitos deuses e muitos senhores” (1 Coríntios 8:15). Sem dúvidas, os apóstolos afirmaram ousadamente a singularidade, a indispensabilidade e centralidade de Cristo. Nós devemos fazer o mesmo.

Devido ao fato de homens e mulheres terem sido feitos a imagem de Deus e verem na criação evidências do Criador, as religiões que têm surgido contém alguns elementos de verdade e beleza. Apesar disso, tais elementos não são evangelhos alternativos. Porque os seres humanos são pecadores e porque o “mundo inteiro está no maligno” (1 João 5:19), também as pessoas religiosas necessitam da redenção providenciada por Cristo. Portanto, não temos nenhuma base para dizer que é possível encontrar salvação fora de Cristo ou aparte de uma aceitação explícita da sua obra por meio da fé.

Às vezes afirma-se que em virtude do pacto de Deus com Abraão, o povo judeu não tem que conhecer a Jesus como seu Messias. Afirmamos que eles necessitam de Cristo tanto como qualquer outra pessoa e que tal suposição seria uma forma de antissemitismo, além de deslealdade a Cristo. Este pensamento nos separa do padrão neotestamentário que consiste em levar o Evangelho “primeiro ao judeu…” por tanto, recusamos a tese de que os judeus tenham seu próprio pacto que faz desnecessária a fé em Jesus.

O que nos une são nossas convicções em comum acerca de Jesus Cristo. O confessamos como o Filho de Deus, que se fez plenamente humano permanecendo plenamente divino, foi nosso substituo na cruz, levando nossos pecados e morrendo em nosso lugar, trocando sua justiça por nossa injustiça, que ressurgiu vitorioso com um corpo transformado, e que voltará em glória para julgar o mundo. Só Ele é o Filho de Deus encarnado, o Salvador, o Senhor e o Juiz. Somente Ele, o Pai e o Espírito Santo, são dignos de adoração, da fé e da obediência de todos. Há somente um Evangelho porque há somente um Cristo. Aquele que por sua morte e ressurreição é o único caminho da salvação. Por tanto, rejeitamos tanto o relativismo, que considera todas as religiões e espiritualidades como caminhos válidos de aproximação a Deus, como o sincretismo, que procura mesclar a fé em Cristo com outras crenças.

Além disso, assim como Deus exaltou Jesus a um lugar de honra para que todos O possam reconhecer, é também nosso desejo o exaltar. Motivados pelo amor de Cristo devemos obedecer à grande comissão de Cristo e amar a Suas ovelhas perdidas, mas em especial somos motivados pelo “zelo” do Seu Santo Nome, e ansiamos por vê-lo receber a glória e honra que Lhe é devida.

No passado, por vezes fomos culpados de adotar atitudes de ignorância, arrogância, falta de respeito e até de hostilidade para com os adeptos de outras religiões. Nos arrependemos de tal postura. Entretanto, continuamos comprometidos dar testemunho positivo e determinado da singularidade do nosso Senhor na Sua vida, morte e ressurreição, em todos os aspectos de nosso trabalho evangelístico, incluindo o diálogo inter-religioso.

(1 Coríntios 8:5; Salmo 19:1-6; Romanos 1:19, 20; Atos 17:28; 1 João 5:19; Atos 10:1, 2; 11:14, 18; 15:8, 9; João 14:6; Gênesis 12:1-3; 17:1, 2; Romanos 3:9; 10:12; Atos 13:46; Romanos 1:16; 2:9, 10; Atos 13:38, 39; João 1:1, 14, 18; Romanos 1:3, 4; 1 Pedro 2:24; 1 Coríntios 15:3; 2 Coríntios 5:21; 1 Coríntios 15:1-11; Mateus 25:31, 32; Atos 17:30, 31; Apocalipse 5:11-14; Atos 4:12; Filipenses2:9-11; 2 Coríntios 5:14; Mateus 28:19, 20; João 10:11, 16; 2 Coríntios 11:2, 3; 1 Timóteo 2:5-7)

4. O Evangelho e a responsabilidade social

O Evangelho autêntico deve ser visível nas vidas transformadas de homens e mulheres. Ao proclamar o amor de Deus devemos estar envolvidos em um serviço de amor, ao pregar o Reino de Deus devemos estar comprometidos às suas demandas de justiça e paz.

A evangelização é primordial porque nossa maior preocupação é o anúncio do Evangelho, para que todas as pessoas tenham a oportunidade de aceitar a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Entretanto, Jesus não somente proclamou o Reino de Deus, mas também, demonstrou sua chegada por meio das obras de misericórdia e poder. Da mesma forma, hoje em dia somos chamados a integrar palavras e atos. Em um espírito de humildade devemos pregar e ensinar, ministrar aos enfermos, dar de comer aos famintos, cuidar dos presos, ajudar os menos favorecidos e descapacitados, e libertar os oprimidos. Ainda que reconheçamos a variedade dos dons espirituais, das vocações e dos contextos, afirmamos também que as boas novas e as boas obras são inseparáveis.

A proclamação do Reino de Deus requer necessariamente a denúncia profética de tudo o que não é compatível com Ele. Entre o mal que desprezamos, está a violência destrutiva, incluindo a violência institucionalizada, a corrupção política, todas as formas de exploração de pessoas e da terra, o enfraquecimento das famílias, o aborto planejado, o tráfico de drogas, e a violação dos direitos humanos. Em nossa preocupação com os pobres, ficamos angustiados com o peso da dívida financeira em dois terços do mundo. Sentimos também as condições ultrajantes e desumanas em que vivem milhares de seres humanos, que levam a imagem de Deus como nós.

Nosso compromisso contínuo com a ação social não é uma confusão entre o reino de Deus e uma sociedade cristianizada. Ao contrário, é um reconhecimento de que o evangelho bíblico tem implicações sociais intrínsecas. A verdadeira missão deve ser sempre encarnacional. Ela requer adentrar humildemente no mundo de outras pessoas, identificando-se com sua realidade social, sua dor e sofrimento e suas lutas por justiça contra poderes opressores. Isso não pode ser feito sem sacrifícios pessoais.

Arrependemo-nos da nossa preocupação limitada e visão bitolada que frequentemente nos impede de proclamar o senhorio de Jesus Cristo sobre todas as esferas da vida, seja privada ou pública, local ou global. Propomo-nos a obedecer a Seu mandamento de “buscar primeiro o Reino de Deus e Sua justiça.”

(1 Tessalonicenses1:6-10; 1 João 3:17; Romanos 14:17; Romanos 10:14; Mateus 12:28; 1 João 3:18; Mateus 25:34-46; Atos 6:1-4; Romanos 12:4-8; Mateus 5:16, Jeremias 22:1-5; 11-17; 23:5-6; Amós 1:1-2, 8; Isaias 59; Levítico 25; Jó 24:1-12; Efésios2:8-10; João 17:18; 20:21; Filipenses 2:5-8; Atos 10:36; Mateus 6:33)

B. Toda a Igreja

Todo o Evangelho tem que ser proclamado por toda a Igreja. Todo o povo de Deus foi chamado para compartilhar a tarefa da evangelização. Sem o Espírito Santo de Deus todos os esforços serão infrutíferos.

5. Deus, o Evangelista

As Escrituras declaram que Deus é o evangelista por excelência. Porque o Espírito de Deus é o Espírito da verdade, amor, santidade, e porque a evangelização é impossível sem Ele. É Ele quem unge o mensageiro, confirma a Palavra, prepara o ouvinte, convence o pecador e ilumina o cego; dá vida ao morto, nos capacita para o arrependimento e para a fé, nos une ao corpo de Cristo e nos assegura que somos filhos de Deus, nos torna semelhantes a Cristo em seu caráter e serviço, e faz de nós suas testemunhas. Em tudo isso a preocupação principal do Espírito Santo é glorificar a Cristo ao nos mostrar quem ele é e ao nos tornar conforme à sua semelhança.

Toda evangelização envolve uma batalha espiritual com os principados e potestades do mal, sobre os quais somente as armas espirituais podem prevalecer, especialmente a Palavra e o Espírito de oração. Portanto, convocamos todos os crentes para que sejam diligentes em suas orações, tanto pela renovação da Igreja como pela evangelização do mundo.

Toda verdadeira conversão implica num encontro de poderes onde a autoridade última de Jesus Cristo se faz manifesta. Não há maior milagre que este: que o crente seja liberto das ataduras de Satanás e do pecado, do medo e futilidade, da escuridão e da morte.

Embora os milagres de Jesus tenham sido especiais, apontando para a sua messianidade e para a antecipação do seu reino perfeito quando toda a natureza lhe estará sujeita, não temos a liberdade de colocar limites ao poder do Criador vivo hoje. Rejeitamos tanto o ceticismo que nega os milagres como a presunção que os exige; tanto a timidez que enfraquece a plenitude do Espírito Santo, como o triunfalismo que nulifica a fraqueza na qual se aperfeiçoa o poder de Cristo.

Arrependemo-nos da nossa tentativa de evangelizar confiando em nossas próprias forças, e ditar ordens ao Espírito Santo. Determinamos que não iremos “entristecer” nem “apagar” o Espírito, mas iremos anunciar as boas novas “em poder, no Espírito Santo e com toda convicção.”

(2 Coríntios5:20; João 15:26, 27; Lucas 4:18; 1 Coríntios2:4; João 16:8-11; 1 Coríntios12:3; Efésios 2:5; 1 Coríntios 12:13; Romanos 8:16; Gálatas 5:22, 23; Atos 1:8; João 16:14; Gálatas 4:19; Efésios 6:10-12; 2 Coríntios 10:3-5; Efésios 6:17; Efésios 6:18-20; 2 Tessalonicenses 3:1; Atos 26:17, 18; 1 Tessalonicenses 1:9, 10; Colossenses 1:13, 14; João 2:11; 20:30, 31; João 11:25; 1 Coríntios 15:20-28; Jeremias 32:17; 2 Timóteo 1:7; 2 Coríntios 12:9, 10; Jeremias 17:5; Efésios 4:30; 1 Tessalonicenses 5:19; 1 Tessalonicenses 1:5)

6. O testemunho Humano

Deus, o supremo evangelista, dá ao Seu povo o privilégio de serem Seus “colaboradores” (2 Coríntios 6:1). Pois, ainda que não possamos testemunhar sem Ele, Ele normalmente escolhe testemunhar através de nós. Ele chama apenas alguns para serem evangelistas, missionários, pastores, mas chama toda a sua Igreja e cada um de seus membros a serem suas testemunhas.

Pastores e mestres têm a privilegiada tarefa de guiar o povo (gr: laos) de Deus com maturidade (Colossenses 1:28) e de equipá-los para o ministério (Efésios 4:11,12). Os pastores não devem monopolizar os ministérios, mas multiplicá-los encorajando outros a usarem seus dons e preparando discípulos para fazerem discípulos. O problema de pastores dominando os fiéis tem sido o grande mal na história da Igreja. Isso priva tanto os fiéis quanto os pastores do papel que Deus lhes têm dado, sobrecarregando-os, debilitando a Igreja e criando obstáculos ao avanço do Evangelho. Mais do que isso, não há qualquer fundamentalmente bíblico para tal comportamento. Por tanto, nós, que durante séculos temos insistido no “sacerdócio de todos os crentes”, agora também insistimos no ministério de todos os crentes.

Reconhecemos agradecidos que as crianças e jovens enriquecem a adoração e a extensão da Igreja com seu entusiasmo e sua fé. Faz-se necessário que os treinemos no discipulado e na evangelização para que alcancem sua própria geração para Cristo.

Deus criou o homem e a mulher, e ambos são portadores de sua imagem (Gênesis 1:26-27). Ele os aceita de igual maneira em Cristo (Gálatas 3:28) e derramou Seu Espírito sobre toda a carne, tanto filhos como filhas (Atos 2:17-18). Além disso, uma vez que o Espírito distribui seus dons às mulheres e também aos homens, elas também devem ter oportunidades para exercê-los. Celebramos o distinto papel das mulheres na história das missões e estamos convencidos de que Deus chama mulheres para um papel similar hoje. Ainda que não concordemos completamente quanto à forma que a liderança feminina deve tomar, estamos de acordo que Deus deseja que homens e mulheres desfrutem de uma cooperação na evangelização mundial. Assim, é necessário haver treinamento adequado para ambos.

O testemunho dos leigos, homens e mulheres, não tem lugar só na da Igreja local (ver seção 8), mas também através de amizades, em casa e no ambiente de trabalho. Até mesmo os que não tem um trabalho ou um lar são chamados para serem testemunhas.

Nossa primeira responsabilidade é a de testemunhar aos nossos amigos, parentes, vizinhos e colegas. O evangelismo a partir da sua própria casa deve ser comum tanto para casados como para solteiros. Um lar cristão deve mostrar as normas de Deus para o casamento, o sexo e a família, e oferecer as pessoas feridas um ambiente de amor e paz. Ele também deve ser um lugar agradável para os vizinhos que não frequentam uma igreja evangélica, mesmo quando se está falando do evangelho.

Outro contexto para o testemunho leigo é o local de trabalho, porque é ali onde a maioria dos cristãos passa a metade das horas todos os dias, e porque o trabalho é uma vocação divina. Os cristãos podem anunciar a Cristo através de suas palavras, do trabalho eficaz, de sua integridade e consideração aos demais, como também através de sua busca pela justiça no lugar de trabalho. Este testemunho torna-se ainda mais eficaz quando os não cristãos percebem a qualidade de um bom trabalho feito para a glória de Deus.

Arrependemo-nos pelas vezes que desencorajamos o ministério dos leigos, em especial o ministério das mulheres e dos jovens. Comprometemo-nos daqui em diante, a estimular todos os seguidores de Cristo a serem testemunhas de Cristo e a agirem conforme esta identidade. A verdadeira evangelização provém do transbordar de corações apaixonado por Cristo. E isso abrange todo o povo de Deus sem exceção.

(2 Coríntios6:1; Atos 8:26-39; 14:27; Efésios 4:11; Atos 13:1-3; Atos 1:8; 8:1, 4; Colossenses 1:28; Efésios 4:11, 12; Mateus 28:19; 2 Timóteo 2:2; 1 Tessalonicenses5:12-15; 1 Coríntios12:4-7; Efésios 4:7; Mateus 21:15, 16; 1 Timóteo 4:12; Gênesis 1:26, 27; Gálatas 3:28; Atos 2: 17, 18; 1 Peter 4:10; Romanos 16:1-6, 12; Filipenses 4:2, 3; Marcos 5:18-20; Lucas 5:27-32; Atos 28:30, 31; Atos 10:24, 33; 18:7, 8; 24-26; 1 Coríntios7:17-24; Tito 2:9, 10; Colossenses 4:1; 3:17, 23, 24; Atos 4:20)

7. A integridade dos testemunhos

Não há nada que respalde o Evangelho de forma mais eloquente do que uma vida transformada, nem nada que o desacredite mais do que uma vida inconsequente com ele. Fomos ordenados a nos portarmos de maneira digna do Evangelho de Cristo, e a adorná-lo ressaltando sua beleza por meio de vidas santas. O mundo que nos observa busca evidências do senhorio de Cristo sobre a vida de seus seguidores.

Nossa proclamação de que Cristo morreu para nos levar a Deus atraí muitas pessoas sedentas espiritualmente. Entretanto, essas pessoas não acreditarão que nós conhecemos ao Deus vivo se nossa adoração e vida pública carecer de relevância para a realidade em que vivemos.

Nossa mensagem de que Cristo reconcilia os homens entre si comprova sua autenticidade quando nós mesmos amamos e perdoamos mutuamente, quando servimos aos outros com humildade e avançamos para além da nossa própria comunidade no ministério de compaixão em favor dos necessitados.

Nosso desafio aos demais para que neguem a si mesmos, tomem sua cruz e sigam a Cristo só terá efeito se nós mesmos fizermos morrer nossas ambições egoístas, a falta de integridade e a cobiça, e vivermos uma vida de simplicidade, contentamento e generosidade.

Lamentamos as inconsistências da vida cristã, vistas nos crentes e nas Igrejas: cobiça material, orgulhos profissional e rivalidade, competição no serviço cristão, ciúmes dos líderes de jovens, paternalismo missionário, falta de responsabilidade mútua, perda das normas cristãs de sexualidade, e a discriminação racial, social e sexual. Tudo isso é mundanismo que permite que a cultura predominante transforme a Igreja quando na verdade é a igreja quem deveria desafiar e transformar a cultura. Estamos profundamente envergonhados das vezes em que, enquanto indivíduos e comunidades cristãs, confessamos a Cristo com palavras, mas o negamos com nossas atitudes. Nossa falta de integridade acaba com a credibilidade do nosso testemunho. Reconhecemos nossas lutas e fracassos contínuos. Mas também, pela graça de Deus, nos comprometemos a desenvolver a integridade em nós mesmos e na Igreja.

(2 Coríntios 6:3, 4; Filipenses 1:27; Tito 2:10; Colossenses4:5, 6; Provérbios 11:3; 1 Pedro 3:18; 1 João 1:5, 6; 1 Coríntios 14:25, 26; Efésios2:14-18; Efésios4:31-5:2; Gálatas 5:13; Lucas 10:29-37; Marcos 8:34; Mateus 6:19-21; 31-33; 1 Timóteo 6:6-10, 17, 18; Atos 5:1-11; Filipenses 1:15-17; 1 Coríntios 5:1-13; Tiago 2:1-4; 1 João 2:15-17; Mateus 5:13; Mateus 7:21-23; 1 João 2:4; Efésios4:1)

8. A Igreja local

Toda congregação cristã é uma expressão local do corpo de Cristo e tem as mesmas responsabilidades. Elas são tanto um “sacerdócio santo” para oferecer a Deus os sacrifícios espirituais de adoração, como também “uma nação santa” para anunciar suas excelências mediante ao testemunho (1 Pedro 2:5,9). A Igreja é então uma comunidade que adora e uma comunidade que testemunha, reunida e espalhada, chamada e enviada. A adoração e o testemunho são inseparáveis.

Cremos que a Igreja local tem a responsabilidade primordial de anunciar o Evangelho. As Escrituras sugerem isto no processo de como o “nosso Evangelho chegou a vós” e logo “partiu de vós” (1 Tessalonicenses 1:5,8). Desta maneira, o Evangelho cria a Igreja que estende o Evangelho, o qual cria mais Igrejas em uma incrível reação em cadeia. Mais ainda, o que as Escrituras ensinam, a estratégia confirma. Cada Igreja local deve evangelizar a localidade em que está situada, e deve ter os recursos para fazê-lo.

Aconselhamos a cada congregação a estudar cuidadosamente a sua membresia, seu programa, mas também a sua comunidade local e suas características, a fim de desenvolver estratégias apropriadas para sua atuação missionária. Seus membros podem decidir organizar visitas em todo o bairro, marcar presença em um lugar em particular onde as pessoas da região normalmente se reúnem, organizar séries de reuniões evangelísticas, conferências ou shows de música, trabalhar com os moradores menos favorecidos a fim de transformar uma área local marginalizada, ou estabelecer uma nova Igreja em um distrito ou um bairro vizinho. Ao mesmo tempo, não se deve esquecer a tarefa global da Igreja. Uma Igreja que envia missionários não deve negligenciar sua própria localidade, e uma Igreja que evangeliza sua vizinhança não deve ignorar o resto do mundo.

Em tudo isso cada congregação e cada denominação deve, onde for possível, trabalhar juntas, procurando tornar qualquer espírito de competição em um espírito de cooperação. As Igrejas também devem trabalhar com organizações para-eclesiásticas especialmente na evangelização, no ensino e no serviço comunitário, porque tais agências também são parte do corpo de Cristo e têm uma valiosa experiência e especialização das quais as Igrejas podem se beneficiar amplamente.

A Igreja foi concebida por Deus para ser um sinal do Seu Reino, isto é, um exemplo de como é uma comunidade que está submetida às suas leis, justiça e paz. O Evangelho precisa ser vivido se queremos comunicá-lo efetivamente, e isso vale tanto para indivíduos quanto para igrejas. É através de nosso amor mútuo que o Deus invisível se revela hoje (1 João 4:12), especialmente quando nossa comunhão se expressa em grupos pequenos, e quando transcende as barreiras de raça, nível social, sexo e idade que normalmente divide as outras comunidades.

Lamentamos profundamente que muitas de nossas congregações só tenham olhos para si mesmas, são organizadas para seu sustento mais que para a missão, ou preocupadas com atividades centradas na própria Igreja aos custos de um bom testemunho. Determinamos que nossas igrejas devam voltar-se de dentro para fora, de modo que possam expandir-se continuamente, para que o Senhor lhe acrescente diariamente aqueles que estão sendo de ser salvos (Atos 2:47).

(1 Corinthians 12:27; 1 Pedro 2:5, 9; João 17:6, 9, 11, 18; Filipenses 2:14-16; 1 Tessalonicenses 1:5, 8; Atos 19:9, 10; Colossenses41:3-8; Atos 13:1-3; 14:26-28; Filipenses 1:27; Lucas 12:32; Romanos 14:17; 1 Tessalonicenses 1:8-10; 1 João 4:12; João 13:34, 35; 17:21, 23; Gálatas 3:28; Colossenses 43:11; Atos 2:47)

9. A cooperação na evangelização

A evangelização e a unidade estão diretamente relacionadas ao Novo Testamento. Jesus pediu que a unidade de seu povo refletisse sua própria unidade com o Pai (João 17:20,21), e Paulo exortou aos Filipenses a “combater unanimemente pela causa do Evangelho” (Filipenses 1:27). A despeito desta visão bíblica, nos envergonhamos das suspeitas e rivalidades, do dogmatismo em questões secundárias, das lutas pelo poder e da edificação de impérios que arruinaram nosso testemunho evangelístico. Afirmamos que a cooperação na evangelização é indispensável. Primeiro, porque é a vontade de Deus, mas também porque o Evangelho de reconciliação é desacreditado por nossa falta de unidade; se a tarefa da evangelização do mundo tem de ser bem-sucedida, devemos realizá-la juntos. “Cooperação” significa encontrar unidade na diversidade. Envolver pessoas de diferentes temperamentos, dons, vocações e culturas, Igrejas nacionais e agências missionárias, todas as idades e ambos os sexos, em um trabalho conjunto.

Estamos decididos a abandonar de uma vez por todas, a influência do nosso passado colonial que nos leva a distinção simplista entre países doadores do primeiro mundo, e os países receptores do terceiro mundo. A grande novidade da nossa era é a internacionalização de missões. Não somente uma grande maioria de cristãos evangélicos é ocidental, como também o número de missionários do terceiro mundo logo ultrapassará os do ocidente. Cremos que equipes missionárias de composição diversificada, mas unidas de mente e coração, são um relevante testemunho da graça de Deus.

Nossa referência a “toda a Igreja” não é uma afirmação presunçosa de que a Igreja universal e a comunidade evangélica são a mesma coisa. Nós reconhecemos que existem muitas igrejas que não são parte do movimento evangélico. O posicionamento das igrejas evangélicas diante da Igreja Católica Romana e as Igrejas Ortodoxas diferem enormemente. Alguns evangélicos estão orando, falando, estudando as Escrituras e trabalhando com tais Igrejas. Outros se opõem fortemente a qualquer forma de diálogo ou cooperação com elas. Todos os evangélicos são conscientes de que ainda subsistem entre nós sérias diferenças teológicas. Onde for apropriado, e enquanto a verdade não for comprometida, a cooperação pode ser possível em áreas tais como a tradução da Bíblia, o estudo de temas éticos e teológicos contemporâneos, o trabalho social e a ação política. Devemos deixar claro, sem dúvida, que uma evangelização comum requer um compromisso comum de respeito ao Evangelho bíblico.

Alguns de nós somos membros de Igrejas que pertencem ao Conselho Mundial de Igrejas, e cremos que uma participação ativa, mas não crítica de sua obra é nosso dever cristão. Outros dentre nós, todavia, não temos nenhuma relação com o Conselho Mundial de Igrejas. Todos nós solicitamos ao Conselho Mundial de Igrejas que se identifique com uma compreensão bíblica e consistente da evangelização.

Confessamos que compartilhamos uma parte da responsabilidade pelo rompimento do corpo de Cristo, fato que constitui um grande obstáculo para a evangelização do mundo. Comprometemo-nos a seguir buscando essa unidade na verdade pela qual Cristo orou. Estamos convencidos de que a forma correta de avançar em uma melhor cooperação é um diálogo franco e paciente, baseado na Bíblia, com todos aqueles que compartilham nossas preocupações. A isso nos comprometemos com alegria.

(João 17:20, 21; Filipenses 1:27; Filipenses 1:15, 17; 2:3, 4; Romanos 14:1-15:2; Filipenses 1:3-5; Efésios 2:14-16; 4:1-6; Efésios 4:6, 7; Atos 20:4; João 17:11, 20-23)

C. Todo o Mundo

Todo o Evangelho todo foi confiado à toda a Igreja, para que seja proclamado em todo o mundo. É necessário, então, que compreendamos o mundo ao qual somos enviados. (Marcos 16:15)

10. O mundo moderno

A evangelização sempre ocorre em um contexto determinado, não em um vácuo. Deve haver um cuidadoso equilíbrio entre Evangelho e contexto cultural. É necessário entender o contexto, sem deixar que este distorça o Evangelho.

Neste aspecto temos nos preocupado com o impacto da “modernidade”, uma cultura mundial emergente produzida pela industrialização com sua tecnologia, e pela urbanização com sua ordem econômica. Estes fatores combinam-se para criar um ambiente que molda significativamente a maneira como vemos nosso mundo. Além disso, o secularismo tem devastado a fé destituindo Deus e o sobrenatural de qualquer relevância ou sentido; a urbanização tem desumanizado a vida de muitos, e os meios de comunicação em massa tem contribuído para a desvalorização da verdade e da autoridade, substituindo a palavra pela imagem. Em conjunto, essas consequências da modernidade distorcem a mensagem pregada e enfraquecem a motivação missionária.

Em 1900 somente 9% da população mundial viviam nas cidades; calcula-se que nos anos 2000 esse número subirá para 50%. Este êxodo rural tem sido chamado de “a maior migração da história humana”; é um dos grandes desafios para as missões cristãs. Por um lado, as populações das cidades são extremamente cosmopolitas, de modo que as nações chegam à nossa porta das nossas cidades. É possível fundar igrejas globais onde o Evangelho acabe com as barreiras étnicas? Por outro lado, muitos dos que vivem nas cidades são imigrantes pobres que estão abertos ao Evangelho. Será que nós, povo de Deus, seremos capazes de nos mudar para essas comunidades urbanas pobres a fim de servir as pessoas e participar da transformação da cidade?

A modernização traz bênçãos e perigos. Ao criar vínculos de comunicação e comércio em todo o mundo, ela abre caminhos sem precedentes para o Evangelho, transpassa antigas fronteiras e abre sociedades fechada, sejam elas tradicionais ou autoritárias. Os meios de comunicação cristãos têm uma influência poderosa, tanto na preparação do solo como na semeadura do Evangelho. As principais emissoras de rádio missionárias comprometeram-se em transmitir a mensagem do Evangelho em todos os idiomas mais falados do mundo antes do ano de 2000.

Confessamos que não temos nos esforçados como deveríamos para entender a modernização. Temos usado métodos e técnicas sem avaliarmos criticamente, nos expondo a formas mundanas de pensar e atuar. Estamos decididos a levar a sério estes desafios e oportunidades, a resistir às pressões seculares da modernização, a relacionar o Senhorio de Cristo com a totalidade da cultura moderna, e assim ocuparmos nossa missão no mundo moderno renunciando ao mundanismo.

(Atos 13:14-41; 14:14-17; 17:22-31; Romanos 12:1, 2)

11. O desafio do ano 2000 em diante

A população do mundo de hoje aproxima-se dos seis bilhões de pessoas. Um terço desta confessa a Cristo nominalmente. Dos quatro bilhões restantes, a metade já ouviu o Evangelho e a outra metade ainda não. À luz destes números, avaliamos nossa tarefa evangelística levando em consideração quatro categorias de pessoas.

Em primeiro lugar estão os comprometidos, uma força potencial para a tarefa missionária. Neste século, esta categoria de crentes cresceu de 40 milhões em 1900 para 500 milhões hoje. Atualmente ela continua crescendo em um ritmo duas vezes maior que qualquer outro grupo religioso.

Em segundo lugar, estão os não comprometidos. Eles professam a fé cristã (são batizados, servem na igreja ocasionalmente e até se identificam como cristãos), mas não têm um compromisso pessoal com Cristo. Eles estão em todos os tipos de igrejas ao redor do mundo e necessitam urgentemente serem re-evangelizados.

Em terceiro lugar estão os não evangelizados. São pessoas com um conhecimento mínimo do Evangelho, mas que nunca responderam a ele. Provavelmente eles estão dentro do alcance os cristãos, bastando apenas que atravessem atravessar a rua, visitem a aldeia ou povoado para encontrá-los.

Em quarto lugar, estão os não alcançados. Estes são os dois bilhões de pessoas que nunca ouviram que Cristo é o Salvador, e que não estão a um fácil alcance de cristãos do seu próprio povo. A bem da verdade, existe cerca de 2.000 povos ou grupos étnicos sem um movimento autóctone e ativo de plantação de igreja. Pensemos neles como grupos étnicos minoritários, com elementos culturais comuns entre si (por exemplo: cultura, idioma, território ou função). Os mensageiros mais eficazes para alcançar esses grupos são os crentes dessa mesma cultura que falam a mesma língua. Do contrário, teriam que ir mensageiros transculturais do Evangelho, deixando para traz sua própria cultura e identificando-se sacrificialmente com os povos que eles almejam alcançar para Cristo.

Na atualidade há uns 12.000 povos não alcançados dentro dos 2.000 agrupamentos maiores de povos, portanto, a tarefa não é impossível. No entanto, atualmente só há 7% da força missionária nesse campo transcultural, enquanto os 93% restantes trabalham na metade do mundo que já é alcançada. Para que este desequilíbrio seja corrigido, será necessário reestruturar estrategicamente os obreiros no campo.

Uma triste realidade que afeta a todas essas categorias é a inacessibilidade. Muitos países não dão vistos aos “missionários” de tempo integral, que não oferecem nenhuma outra profissão ou contribuição para o país. Tais áreas não são completamente inacessíveis, pois nossas orações podem transpassar toda barreira, cortina ou porta. A rádio e televisão cristã, fitas cassetes e fitas de vídeo, filmes e literaturas também podem chegar a lugares fechados. Da mesma forma o podem os “fazedores de tendas” que, como o apóstolo Paulo, podem se manter financeiramente com sua profissão. Viajam como homens de negócios, professores universitários, técnicos especializados e professores de idiomas, e aproveitam todas as oportunidades para falar de Jesus Cristo. Eles não entram em país com um falsas pretensões, mas sim através do seu trabalho legítimo, porém o que acontece simplesmente é que o testemunhar é parte essencial de uma vida cristã onde quer que eles estejam.

Envergonhamo-nos profundamente que quase dois milênios depois da morte e ressurreição de Cristo, dois terços da população mundial ainda não O reconhecem como Salvador. Por outro lado, ficamos maravilhados com as crescentes evidências do poder de Deus nos lugares mais inóspitos da terra.

O ano 2000 será um marco desafiador para muitos. Nós podemos nos comprometer em evangelizar o mundo durante a última década deste milênio? Não existe nada mágico com essa data, mas será que não podemos nos esforçar o máximo possível para alcançar esse objetivo? Cristo nos ordena levar o Evangelho a todas as nações. A tarefa é urgente. Estamos decididos a obedecê-Lo com alegria e esperança.

(Atos 18:1-4; 20:34; Lucas 24:45-47)

12. Situações difíceis

Jesus disse claramente aos seus seguidores que deveriam esperar oposições. “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros;” (João 15:20). Inclusive lhes disse que deveriam alegrar-se na perseguição (Mateus 5:12), e lembrou-lhes que a condição para produzir o fruto é a morte (João 12:24).

Estas previsões de que o sofrimento cristão é inevitável e produtivo, tem se se tornado realidade a cada época, incluindo a nossa. Houve milhões de mártires ao longo da história. Hoje em dia, a situação não muda muito. Esperamos sinceramente que a glasnost e a perestroika levem à completa liberdade religiosa na União Soviética e em outras nações do bloco oriental, e que os países islâmicos e hindus se tornem mais abertos ao evangelho. Lamentamos a recente repressão brutal do movimento democrático chinês, e oramos para que isso não traga mais sofrimento aos cristãos. De modo geral, no entanto, parece que as religiões antigas estão se tornando menos tolerantes, os expatriados menos bem-vindos e o mundo menos amigável ao evangelho.

Diante essa situação, queremos fazer três declarações aos governos que estão reconsiderando sua atitude para com os cristãos.

Primeiro, os cristãos são cidadãos leais, que buscam o bem-estar de sua nação. Eles oram por seus líderes e pagam seus impostos. É claro que aqueles que confessaram Jesus como Senhor não podem também chamar outras autoridades de Senhor e, se lhes for ordenado que o façam, ou que façam qualquer coisa que Deus proíba, eles terão que desobedecer. Mas eles são cidadãos conscientes. Eles também contribuem para o bem-estar de seu país por meio da estabilidade de seus casamentos e de seus lares, de sua honestidade nos negócios, de seu trabalho árduo e de sua atividade voluntária a serviço dos incapacitados e necessitados. Governos justos não têm por que temer os cristãos.

Em segundo lugar, os cristãos renunciam a métodos indignos de evangelismo. Embora a natureza de nossa fé exija que compartilhemos o evangelho com outras pessoas, nossa prática é fazer uma declaração aberta e honesta do evangelho, deixando os ouvintes totalmente livres para decidir sobre ele. Desejamos ser sensíveis às pessoas de outras religiões e rejeitamos qualquer abordagem que busque forçar a conversão delas.

Em terceiro lugar, os cristãos desejam sinceramente a liberdade de religião para todas as pessoas, não apenas a liberdade para o cristianismo. Nos países predominantemente cristãos, os cristãos estão na vanguarda daqueles que exigem liberdade para as minorias religiosas. Em países predominantemente não cristãos, portanto, os cristãos estão pedindo para si mesmos não mais do que exigem para outros em circunstâncias semelhantes. A liberdade de “professar, praticar e propagar” a religião, conforme definido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, poderia e certamente deveria ser um direito concedido reciprocamente.

Lamentamos muito qualquer testemunho indigno do qual os seguidores de Jesus possam ter sido culpados. Estamos decididos a não ofender desnecessariamente em nada, para que o nome de Cristo não seja desonrado. Entretanto, não podemos evitar a ofensa da cruz. Por causa de Cristo crucificado, oramos para que possamos estar prontos, por sua graça, para sofrer e até mesmo morrer. O martírio é uma forma de testemunho que Cristo prometeu honrar especialmente.

(João 15:20; Mateus 5:12; João 12:24; Jeremias 29:7; 1 Timóteo 2:1, 2; Romanos 13:6, 7; Atos 4:19; 5:29; 2 Coríntios 4:1, 2; 2 Coríntios 6:3; 1 Coríntios 1:18, 23; 2:2; Filipenses 1:29; Apocalipse 2:13; 6:9-11; 20:4)

Conclusão: Proclamar a Cristo até que Ele venha

“Proclamar Cristo até que ele venha”. Esse tem sido o tema de Lausanne II. É claro que acreditamos que Cristo já veio; ele veio quando Augusto era imperador de Roma. Mas um dia, como sabemos por suas promessas, ele virá novamente em um esplendor inimaginável para aperfeiçoar seu reino. Fomos ordenados a vigiar e a estar preparados. Enquanto isso, o intervalo entre suas duas vindas deve ser preenchido com o empreendimento missionário cristão. Fomos comissionados para irmos até os confins da Terra com o evangelho, e foi-nos prometido que o fim dos tempos só chegará quando tivermos feito isso quando os dois extremos (do espaço e do tempo) coincidirão. Até lá, ele se comprometeu a estar conosco.

Portanto, a missão cristã é uma tarefa urgente. Não sabemos quanto tempo temos. Certamente não temos tempo a perder. E para que possamos assumir urgentemente nossa responsabilidade, outras qualidades serão necessárias, especialmente a unidade (devemos evangelizar juntos) e o sacrifício (devemos contar e aceitar o custo). Nosso pacto em Lausanne foi “orar, planejar e trabalhar juntos para a evangelização do mundo inteiro”. Nosso manifesto em Manila é que toda a igreja é chamada a levar todo o evangelho a todo o mundo, proclamando Cristo até que ele venha, com toda a urgência, unidade e sacrifício necessários.

(Lucas 2:1-7; Marcos 13:26, 27; Marcos 13:32-37; Atos 1:8; Mateus 24:14; Mateus 28:20)

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