Dizem que o foco do século 20 foram as grandes organizações e que o foco do século 21 são grandes movimentos e redes de contatos. No complexo mundo das missões do século 20, grandes mulheres, homens, igrejas e organizações, agindo no poder do Espírito, enfrentaram as trevas, desbravaram novos campos, fizeram discípulos, aprenderam e compartilharam as melhores práticas e viram a glória do Senhor.
No complexo mundo do século 21, enredado em globalização, urbanização, migração, desenvolvimento tecnológico, turbulência econômica e governamental, desastres climáticos e na vertiginosa velocidade da mudança nesses e em muitos outros domínios, é evidente que, a menos que trabalhemos juntos diante do Senhor, mesclando nossa gloriosa e confusa heterogeneidade, nossos resultados ficarão muito aquém das nossas aspirações.
No mês passado, revisamos o fundamento bíblico dessa colaboração missionária. Vimos que o próprio Deus triúno atua em unidade e diversidade. A Trindade respeita a natureza distinta e as iniciativas específicas de cada Pessoa e age de forma colaborativa como uma só. No Antigo Testamento, Moisés tinha a colaboração de Arão, Saul, de Samuel, Davi, de Samuel e Natan, e os reis tiveram uma multidão de profetas. No Novo Testamento, os indivíduos têm uma variedade de dons e requerem interconexão para que a plenitude do caráter de Deus seja manifestada; as igrejas têm uma estrutura de liderança quíntupla (Ef 4.11) e vários presbíteros. A própria Bíblia é uma expressão da colaboração entre Deus e o homem, e pode-se afirmar o mesmo sobre o Senhor Jesus. A colaboração missionária está enraizada nesses ensinamentos e exemplos bíblicos.
À medida que avançamos para o Quarto Congresso de Lausanne, que acontecerá em setembro, vamos explorar vários exemplos de trabalhos colaborativos que aceleram o avanço do evangelho. Veja, por exemplo, a história da Associação de Missões Evangélicas da Nigéria (NEMA). Iniciativas como o Project Searchlight, cujo foco foi a pesquisa de grupos de povos e uma maior conscientização da necessidade da janela 10/40, deram origem a uma visão abrangente: pedir ao Senhor 50 mil agentes da Grande Comissão que mobilizariam 15 mil missionários transculturais para 34 países, no período de 15 anos, entre 2005 e 2020.
Os resultados da Visão 5015 foram gloriosos! Igrejas mobilizadas, obreiros enviados, novas igrejas e novos discípulos. Nada disso seria possível sem o fortalecimento de parcerias e da confiança entre os participantes. Nos quatro anos desde a conclusão desse ciclo de visão, outros obreiros foram enviados a povos não engajados e não alcançados, a pesquisa trouxe mais esclarecimento quanto ao que ainda havia a fazer e a necessidade da tradução da Bíblia para mais línguas e de maior envolvimento com as Escrituras ficou mais evidente.
Os líderes da NEMA querem enfatizar aos participantes do Lausanne as lições aprendidas na jornada da Visão 5015.
A colaboração é viável
Não se trata de devaneio ou mera ilusão: sem colaboração a tarefa será duas vezes mais difícil.
A colaboração tem propósito
O objetivo deve ser atraente e tangível. No caso da NEMA, foi o engajamento de todos os grupos de povos de seu país, garantindo que nenhuma pessoa, lugar ou língua fosse negligenciada.
A colaboração é sincera
Não é uma manobra para concluir uma tarefa. Não é uma tentativa sutil de usar pessoas ou organizações para atingir metas ou objetivos pessoais. Heróis não são necessários, mas servos humildes, sim.
A colaboração requer compartilhamento
de informações e recursos
Você acumula dados e recursos para si? Então esqueça a ideia de parceria. Quando o coração está envolvido, pode haver segurança e transparência sem prejuízo.
A colaboração honra cada contribuição
Cada pessoa, igreja e organização tem algo a contribuir, não há dom menos importante.
A colaboração glorifica a Deus
“Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” Salmos 115:1
O exemplo da NEMA e a experiência de todos nós com o passar dos anos é que a colaboração expande a nossa consciência bíblica, aprofunda a nossa sensibilidade cultural, traz clareza de entendimento sobre o trabalho em equipe, desafia nossos pressupostos sobre a igreja e media os inevitáveis conflitos que surgem quando partilhamos com outros nossa busca por algo grandioso. Não fosse pelo nosso compromisso de ouvir uns aos outros, imagine como seria enfraquecida a nossa compreensão das Escrituras! Nossa estima pela cultura, nosso apreço pelos que são diferentes de nós e até mesmo nossas opiniões sobre como são as comunidades de Jesus serão reforçados pelas percepções de outros, e praticamente todas as questões importantes serão mais bem compreendidas quando comunicadas por pessoas sensatas que partilham de múltiplas perspectivas.
A colaboração é fundamental para uma rede global cuja paixão é ver o evangelho para cada pessoa, igrejas discipuladoras para cada povo e lugar, líderes como Cristo para cada igreja e setor, e o impacto do reino em cada esfera da sociedade. Estamos perfeitamente cientes das barreiras e falaremos sobre algumas delas no próximo mês. Mas os benefícios de frutos mais profundos e ricos e a força que advém da parceria ofusca tudo isso assim como o sol em relação a uma lâmpada.
Acima de todos os benefícios práticos, está a consciência de que essa mesma determinação em colaborar reflete a natureza do nosso Deus triúno e honra o seu desejo de que nós, que somos muitos, sirvamos como um. Que a colaboração seja feita na terra assim como no céu. Que a beleza da natureza multifacetada de Deus se reflita em nossas parcerias. “Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?” (Êxodo 15.11). Que melhor forma de expressar sua majestade, a abrangência de sua diversidade, sua gama de emoções, seu ápice de perfeição, sua profundidade de discernimento, do que através de seu corpo, formado por potes de barro maravilhosamente unidos por cada junta e ligamento?