Uma viagem de encorajamento pelos Bálcãs

Uma caravana para encorajar jovens líderes

Micaela Braithwaite | 26 set 2022

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Equipe liderada por Evi Rodemann visita 205 jovens líderes em 15 países balcânicos, ao longo de 21 dias.

Há seis anos, na África do Sul, Evi Rodemann visitou amigos que haviam retornado recentemente de uma viagem pelo continente em uma van, fortalecendo os líderes cristãos ao longo do caminho.

Inspirada por esse exemplo, assim que retornou à Alemanha, Evi começou a pensar o que poderia fazer para abençoar os líderes na Europa, especialmente na região dos Bálcãs. Muitos de seus amigos que ali moravam sentiam-se exaustos e desanimados após a pandemia de Covid-19.

Evi Rodemann é presidente de grupos e encontros da Geração de Líderes Jovens (GLJ), diretora do LeadNow, e diretora adjunta do congresso Seul 2024. Nos últimos meses, ela decidiu reunir uma equipe e tornar realidade a viagem aos Bálcãs com a qual havia sonhado.

De 23 de julho a 12 de agosto de 2022, Evi e sua equipe cruzaram muitas fronteiras e passaram longos dias em uma van, tudo para encorajar, fortalecer e abençoar jovens líderes em toda a região dos Bálcãs. Em apenas 21 dias, eles visitaram 205 líderes em 15 países, percorrendo mais de 6 mil quilômetros.

Os Bálcãs são uma bela e diversificada região da Europa, que inclui países como Albânia, Bósnia, Kosovo, Croácia e Grécia. Essa região é frequentemente negligenciada, tanto como campo missionário quanto como um recurso missionário.


A equipe (da esquerda para a direita): Tim Engelmann, André Springhut, Kirsy Rodemann, Leah Timmermann, Heiko Simmer, Evi Rodemann, Lexie Newsom.

Embora a história da região dos Bálcãs seja marcada por incessantes guerras e conflitos, a equipe impressionou-se com a resiliência e fidelidade dos líderes cristãos locais. Os cristãos evangélicos na região dos Bálcãs são principalmente de primeira geração, e muitas das igrejas que a equipe visitou são as primeiras igrejas evangélicas plantadas no país, onde o crescimento tem sido muito lento. Durante a pandemia, os líderes sentiam como se os longos meses de isolamento e as restrições a reuniões tivessem destruído a colheita, que havia sido meticulosamente cultivada ao longo de anos de plantio em campos aparentemente estéreis.

“Anseio vê-los, a fim de compartilhar com vocês algum dom espiritual, para fortalecê-los”, escreve o apóstolo Paulo em Romanos 1.11. Da mesma forma, Evi queria lembrar aos crentes dos Bálcãs que os que semeiam com lágrimas, colherão com cantos de alegria. O desejo de Evi era encorajá-los a não se cansarem de fazer o bem, pois, se não desistirem, no momento certo terão uma colheita de bênçãos. Ela queria lembrá-los de que os frutos do reino não podem ser medidos em números.


A rota de ida e volta entre Hamburgo e a Grécia.

A equipe, que incluiu assistentes sociais, militares, artistas, missionários e estudantes, planejou o percurso. Começariam em Hamburgo, atravessariam a República Tcheca, desceriam em direção à Grécia e voltariam por outra rota ao longo da costa. Em cada um dos 15 países, eles planejaram paradas nas quais encorajariam velhos amigos e estabeleceriam novas amizades.

À medida que os planos começavam a se encaixar, surgiu um grande obstáculo: o veículo. Alugar um carro não funcionaria, pois o seguro não lhes permitiria viajar à região dos Bálcãs, então, durante meses, eles buscaram uma alternativa.

Quando todas as opções estavam esgotadas e eles começavam a questionar a viabilidade da viagem, o líder de uma casa de oração no leste da Alemanha soube da viagem e os presenteou com uma van que atenderia perfeitamente às necessidades. O exterior da van estava até decorado com os detalhes da viagem.

A própria van era uma mensagem de encorajamento, especialmente enquanto cruzavam a República Tcheca, conhecida como a nação com o maior índice de ateísmo no mundo e por ter regiões com até 98% de muçulmanos.

As histórias do caminho

Certa noite, a equipe atravessou uma ponte de Kosovo para a Sérvia, orando por paz e reconciliação entre essas duas nações. Uma hora depois, tumultos na ponte sobre a qual eles haviam acabado de passar causaram o bloqueio de estradas, o que os obrigou a fazer um desvio de duas horas por questões de segurança.

“Fomos embora e deixamos as tensões para trás”, diz Evi. “Mas a situação é muito diferente para os que vivem não apenas ali, mas em muitas dessas nações onde há constantes tensões”.

Na Eslovênia, país com uma das maiores taxas de suicídio e depressão da Europa, a equipe conheceu uma senhora que vinha de um ambiente tão conturbado que, aos sete anos de idade, já havia pensado em suicídio. Mais tarde, quando se tornou cristã, seu pai muçulmano deixou de falar com ela, dizendo que ela não era mais sua filha. Apesar das pressões e perseguições que enfrentou, ela perseverou em sua fé e agora está concluindo seu doutorado em teologia enquanto trabalha em uma organização missionária europeia e está envolvida em alcançar sua comunidade.

Na Albânia, o grupo se encontrou com um casal romani que lhes implorou para que fossem vê-los, dizendo: “Vocês são os primeiros que vieram apenas para passar algum tempo conosco”. Normalmente, eles são ignorados porque não estão na capital ou, então, recebem visitas apenas por motivos relacionados ao ministério. Simplesmente celebrar a bondade de Deus juntos e passar tempo ouvindo as histórias uns dos outros foi o incentivo de que esse casal romani precisava.

A equipe passou a maior parte do tempo apenas visitando, ouvindo e partilhando refeições com os líderes da região, sem tentar oferecer respostas ou soluções aos problemas enfrentados. A necessidade de colaboração e conexão entre líderes é particularmente grande nessa região com tão poucos cristãos, pois muitos desses líderes se sentem isolados e solitários.

A necessidade de colaboração e conexão entre líderes é particularmente grande nessa região com tão poucos cristãos, pois muitos desses líderes se sentem isolados e solitários.

“Um dos líderes que conhecemos nos disse: ‘As pessoas nos visitam apenas uma vez e depois nos riscam da lista’. O que esses líderes realmente precisam é da nossa amizade e da certeza de que não estão sozinhos”, afirma Evi.

Montenegro tem 750 mil habitantes, mas, até onde se sabe, há cerca de 250 evangélicos apenas. Evi e sua equipe se reuniram com um líder que, aos 23 anos, foi para Montenegro para plantar uma igreja. Ao longo dos anos, ele permaneceu fiel ao processo de plantação de sua igreja ali, apesar do crescimento lento e do apoio escasso. Hoje, há sete igrejas em Montenegro. Quando esse jovem líder foi chamado para lá, não havia nenhuma.


Uma refeição com Daniel, líder de uma igreja em Bar, Montenegro.

Fé refinada pelo fogo

A equipe, no espírito do apóstolo Paulo, optou por não ser um fardo para ninguém e arrecadou fundos para hospedagem e alimentação, e até fez doações para os necessitados ao longo do caminho. A ideia era não apenas ser uma bênção espiritual, mas também atender às necessidades materiais e identificar possíveis demandas futuras.

‘“Embora sejam grandes as necessidades materiais, creio que há uma necessidade ainda maior. As vozes dos líderes cristãos dos Bálcãs precisam ser ouvidas; suas histórias precisam ser contadas”, diz Evi. “É preciso que eles se sintam vistos e ouvidos pela Igreja global, não apenas no que se refere às suas necessidades, mas também em termos de sua contribuição para a Igreja global.”

Esses líderes demonstram uma perseverança visível e permanecem fiéis ao chamado que receberam, apesar de enfrentarem inúmeros desafios diferentes daqueles enfrentados no restante da Europa.

Em meio à grande necessidade desta região, há também uma grande oportunidade.

Em meio à grande necessidade desta região, há também uma grande oportunidade. Muitas das igrejas têm poucos anos e algumas delas são as primeiras igrejas evangélicas no país. Grande parte dos países da região tem populações muito jovens. Em Kosovo, por exemplo, 70% da população tem menos de 35 anos. A maioria dos líderes que a equipe conheceu se tornou cristã quando criança, e são os jovens que costumam estar abertos a explorar as ideias do cristianismo. No entanto, há uma carência real de ministérios para crianças e jovens. Kosovo tem apenas cerca de 24 igrejas e, em 80% delas, não há ministério infantil ou juvenil.

ArtiGO

A extraordinária re-evangelização da Europa

igrejas da diáspora, movimentos de plantação de igrejas e a próxima geração

O que mais impressionou Evi na região dos Bálcãs foi o amor incondicional dos líderes por Deus, bem como sua paixão e seu amor ilimitado pela edificação de seu reino.

“Apesar do crescimento lento e difícil e dos recursos limitados, a fé dos crentes dos Bálcãs supera os desafios de suas circunstâncias”, diz Evi. “Não é uma fé superficial; é uma fé que foi refinada pelo fogo”.

O exemplo dos crentes dos Bálcãs serve para chamar a Igreja global a sustentá-los em oração e a se alegrar com sua fidelidade no avanço da Grande Comissão em seu canto do mundo.

Temos muito a aprender com outras nações.

“Temos muito a aprender com outras nações. Essa viagem aos Bálcãs abriu meus olhos para as maneiras singulares pelas quais irmãs e irmãos de outras culturas amam sinceramente a Deus de todo o coração, apesar de enfrentarem desafios que nós, na Europa Ocidental, podemos apenas imaginar”, diz ela.

Ao retornar da viagem, Evi conta que a equipe está com o coração ao mesmo tempo aquecido e partido. Eles se sentem encorajados pelos testemunhos compartilhados, pelas novas amizades e pela fidelidade que observaram, mas os incessantes conflitos, as muitas necessidades e o sentimento de negligência experimentado pelos líderes cristãos nos Bálcãs partem seu coração.

“O que podemos fazer por essas nações para que elas se sintam ouvidas?”, pergunta Evi. “O que podemos aprender com sua sobrevivência e até mesmo desenvolvimento em meio a situações difíceis? Como a Igreja global pode ser estimulada a fornecer uma plataforma eficiente para que esses irmãos e irmãs compartilhem suas necessidades e vitórias?”

Ao ouvir atentamente as vozes dos líderes da região dos Bálcãs, a equipe conseguiu discernir quais são as reais necessidades desses líderes, e não se limitou a presumir o que era necessário. Eles conseguiram construir relacionamentos mutuamente benéficos e sustentáveis, em vez de apenas doar recursos e partir.

Paulo escreve em 1Tessalonicenses 2.8: “Sentindo, assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito amados por nós”.

Da mesma forma, Evi disse a seus companheiros de equipe no final da viagem: “O relacionamento não deve terminar quando a viagem terminar”. Ela desafiou os membros da equipe a retomar o contato com uma pessoa que conheceram, orar por ela e procurar saber mais sobre suas necessidades.

“Em todas as diferentes culturas e diversas expressões cristãs, o mesmo Deus é adorado”, declara Evi. “É extraordinário o poder da família de Deus no serviço conjunto; e somente juntos podemos edificar o reino de Deus e alcançar nosso povo para Cristo. Essa união e unidade na colaboração também é algo que desejo ver na jornada do Lausanne 4 e no congresso de Seul 2024”.

Ore conosco

por Evi Rodemann

Querido Jesus, o mundo está em turbulência e a região dos Bálcãs enfrenta suas próprias e frequentes tensões. Que a tua vontade seja feita nessa região e que milhares e milhares de pessoas encontrem a paz eterna em seus corações. Que o corpo de Cristo responda às portas abertas, e que igrejas sejam despertadas, renovadas e plantadas.

Micaela Braithwaite é coordenadora de comunicação interna do Movimento de Lausanne. Concluiu sua graduação em teologia no Baptist Theological College of Southern Africa, onde também ministrou um curso de línguas bíblicas. Micaela já serviu como pastora de crianças e jovens e atualmente lidera um ministério estudantil em sua igreja local. Ela e o marido moram em Joanesburgo, na África do Sul.