Global Analysis

Igrejas na China

o duplo desafio da influência crescente e da cautela oficial

Thomas Harvey, Paul Huoshui & David Ro jul 2014

This is the Executive Summary. The full article is available in English.

Um embate entre paroquianos da Igreja de Sanjiang e o governo provincial de Wenzhou terminou recentemente com a destruição, pelo governo, de uma megaigreja de 4.000 assentos por violação das leis de construção. Em Beijing, oito membros da igreja não registrada e independente de Shouwang foram detidos pelo Gabinete de Segurança Pública. Esses eventos, entre outros fatores, parecem apontar para a emergência de uma campanha para limitar o crescimento e a influência do cristianismo.

Mas é fácil perder de vista a conexão entre esses incidentes e a natureza mutante das igrejas chinesas e da própria China — e como isso atinge a relação das igrejas com o estado na China. A destruição da igreja em Wenzhou, por exemplo, desmente a noção de que o cristianismo na China é pobre, impotente e enfrenta grandes dificuldades. Wenzhou é uma das “cidades em alta” em termos econômicos e espirituais. Hoje, os cristãos em Wenzhou reúnem-se em centros de culto bem equipados, acomodando milhares de fiéis. Agora, os cristãos representam grandes negócios e interesses sociais nas megacidades que estão crescendo na China.

Decerto, o crescimento do cristianismo em tamanho e em estatura social incomoda alguns altos oficiais. Dadas as reações diversas e confusas vindas de diferentes camadas dos oficiais governantes, poderia parecer que permanecem algumas desavenças quanto à maneira de reagir às mudanças na situação. Entretanto, parece que a destruição de prédios e cruzes das igrejas têm sanção do governo central. Desse modo, refletem a cautela crescente para com o cristianismo por parte de líderes governamentais.

Se o governo iniciasse uma campanha nacional contra o cristianismo, haveria grande probabilidade de fracasso, exacerbando a dissensão interna e alienando um eleitorado importante na própria China. Internacionalmente, prejudicaria relacionamentos chaves.

As igrejas da China continuarão crescendo e exercendo grande influência em todos os níveis da sociedade. Em termos do estado, pode-se assumir que, com o tempo, mais políticas moderadas prevalecerão.

Alguém poderia esperar que os líderes da igreja chinesa fizessem alguma reflexão sobre si mesmos e até autocrítica, por causa desses reveses. O triunfalismo que procura apresentar o cristianismo valendo-se de grandes construções e acúmulo de poder, riqueza e influência, em lugar da humildade e da cruz, está fadado ao fracasso.

Os cristãos em todo o mundo devem expressar preocupação com os incidentes recentes e instar moderação às igrejas na China, sejam elas registradas ou não. Para vencer a desconfiança dos oficiais públicos, devem também insistir para que os cristãos na China trabalhem pelo bem comum e assumam posição pessoal e pública contra a corrupção.

Também é importante perceber que a relação entre as igrejas, a sociedade e o estado tem mudado de maneira radical ao longo dos últimos vinte anos e que nossas noções antiquadas das igrejas nos lares na China são anacrônicas. Além disso, assim como a China vem crescendo em importância como líder em política e negócios internacionais, sua importância na liderança eclesiástica global está começando a ganhar forma. De modo que, assim como o tamanho, a força e a influência da igreja chinesa chamaram a atenção do governo chinês, assim também devem captar a atenção da igreja global.

Autoria (bio)

Thomas Harvey

Thomas Harvey é o reitor acadêmico do Centro de Estudos de Missões de Oxford, em Oxford, Reino Unido. De 1997–2008 – ele serviu como professor sênior de teologia sistemática na Trinity Theological Seminary College em Singapura.

David Ro

David Ro atua como diretor do Centro Missionário Christy Wilson no Seminário Teológico Gordon-Conwell, bem como diretor regional do Movimento Lausanne na Ásia Oriental. David viveu e serviu por 22 anos no Leste Asiático. Ele é formado pelo Wheaton College, pelo Seminário Teológico Gordon-Conwell e pela Universidade de Pequim. Ele é um palestrante e mobilizador frequente e representa uma fonte líder para a igreja na China urbana. David e sua esposa, Jackie, juntamente com seus quatro filhos, residem atualmente em Taiwan.

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