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A pandemia da COVID-19 tem encorajado os líderes de igrejas ao redor do mundo a buscarem respostas sobre a vida da igreja. Quando sairmos da crise e entrarmos no “novo normal”, as congregações deverão repensar o discipulado, missões e igreja? Caso a resposta seja sim, a experiência das “novas expressões” oferece recursos para esta autoavaliação.

“As novas expressões da igreja” têm surgido na Europa, América do Norte, Austrália, África do Sul, e Coréia do Sul, com interesse em outras partes da África e Ásia. Há novas comunidades cristãs entre os grupos de pessoas que estão, em sua maioria, fora da igreja institucional.

Exemplos estimulantes

A Wildwood United Methodist Church na Flórida cultivou mais de 14 comunidades desse tipo nos últimos oito anos. Elas incluem:

Arte para o amor

pessoas que gostam de artes se encontram para orar, louvar e criar arte juntos.

Bolsas de bençãos

um grupo que louva e ora enquanto coleta e distribui itens essenciais aos moradores de rua.

Conectar

uma igreja para crianças com atividades divertidas, café da manhã, histórias de Jesus, e louvor que se encontra no Martin Luther King Jr. Community Center.

Fielmente fitness

pessoas interessadas em fitness e saúde se encontram no parque para orar, fazer devocionais e caminhar.

Patas de louvor

uma igreja para pessoas que amam cachorros que se encontram no parque local para orar, louvar, estudar as escrituras e brincar.

Tesouradas de amor no Soul Salon

um salão pop-up que oferece cortes gratuitos de cabelo, oração e reflexão bíblica.

Igreja do Estúdio de Tatuagem

tatuagens com temáticas da fé com louvor a Jesus através da Santa Ceia.

Trap Stars para Jesus

traficantes e ex-traficantes aprendem como começar negócios legítimos apoiados pela oração e das escrituras.

Skate. Orar. Repetir.

um grupo de amigos que se encontra em rinques de skate internos e externos para andar de skate, orar, e compartilhar sua fé.

Igreja 3.1

jovens profissionais se encontram para correr 5km (3.1 milhas), e depois orar e debater versículos bíblicos.

Pequenas equipes de cristãos amam e servem as pessoas fora da igreja e formam uma comunidade com cada um desses grupos. Cada pessoa é direcionada a Jesus com sensibilidade, oferecendo-a uma vida mais completa. Em sua jornada com a fé, eles se tornam comunidades de louvor onde estão, mas ainda são parte do corpo de Cristo.

Começo e crescimento


por the Church of England

A linguagem de “novas expressões” foi introduzida em 2004 pela Igreja Anglicana em seu relatório seminal Mission-shaped Church[1] (“A igreja com forma missionária”, em tradução livre), que descreveu as novas formas de comunidades cristãs que estavam surgindo e encorajou a igreja a apoiá-las. O relatório se tornou um dos mais influentes na história recente da igreja Anglicana. Os evangélicos estão na vanguarda com essas novas comunidades, mas o interesse está mais amplamente espalhado, inclusive dentro do Conselho Mundial de Igrejas.

A Igreja Anglicana espera plantar em média uma “igreja de nova expressão” por paróquia até 2030. A Igreja Metodista da Flórida espera plantar 500 nos próximos cinco anos. A Igreja Protestante dos Países Baixos (PKN) atualmente tem mais de 100 equipes que operam como pioneiras nas “novas expressões”.

Fundamentos teológicos

As “igrejas de novas expressões” são definidas por quatro valores teológicos:

Missional. Elas participam da missão de Deus para alcançar o mundo, focando nas pessoas que estão fora da igreja.

Contextual. Assim como o Filho de Deus, em Jesus, se imergiu na cultura do século I da Palestina, essas igrejas vivem na cultura das pessoas as quais elas servem, demonstrando o amor de forma prática, compartilhando o evangelho e formando novas comunidades de fé contextualizadas.

Transformacional. Em obediência à grande comissão, e através do Espírito, elas buscam transformar as pessoas à imagem de Cristo.

Eclesiástica. Elas não são degraus para uma congregação existente. São novas comunidades de fé onde já há pessoas, em meio a suas vidas cotidianas. Elas também afirmam a importância teológica da igreja ao trazer a igreja para o cerne da vida cotidiana.

Um método missionário

O diagrama abaixo, conhecido como “O ciclo de amar-primeiro” descreve como as “novas expressões” surgem.

Por exemplo, Sue conheceu outros pais no portão da escola. Ela os ouviu e descobriu que muitos gostariam de passar mais tempo juntos.

Portanto, como uma expressão de amor, ela organizou encontros às quintas-feiras pela manhã na sala de professores da escola. Ela forneceu café, sucos e croissants. Os pais assistiram um vídeo sobre alguns problemas da vida com uma perspectiva cristã discreta e compartilharam suas reações.

Com o passar do tempo, Sue percebeu que alguns dos participantes estavam se interessando em Cristo. Então, ela compartilhou sobre Jesus, dando início a um estudo bíblico exploratório às terças-feiras pela manhã. As reuniões de quinta-feira continuaram.

Gradualmente os membros do grupo de terças-feiras aprenderam a orar e começaram um louvor simples. Eles ficaram entusiasmados ao ver a igreja que se formou entre eles, mas entristecidos com a falta de envolvimento de seus parceiros e amigos do trabalho, assim como seus filhos que estavam estudando na escola. Então, eles repetiram o ciclo começando um encontro para eles aos sábados à tarde com atividades para todas as idades, comida e um pouco de contribuição cristã.

É claro que a vida é mais bagunçada que um diagrama! Assim, os ciclos se sobrepõem, e se empilham um sobre o outro, acontecem em outra ordem e, às vezes, as equipes voltam para uma etapa anterior.

Mesmo assim, um número cada vez maior de equipes está usado o “Ciclo de amar primeiro” como um mapa para planejar sua jornada, reconhecendo quão longe vieram e decidindo onde ir depois.

Missão integrada

Cada círculo exemplifica um aspecto do reino de Deus.

Ouvir

respeita o outro, um valor do reino.

Amar

pode tomar a forma de cuidados pastorais, preocupações com o ambiente ou promover a justiça social – todos esses são traços do reino.

Comunidade

é parte integral do reino.

Compartilhar Jesus

envolve conversas sobre a pessoa que anunciou o reino de Deus.

Igreja

e o reino se tornarão um quando Jesus voltar.

Repetir

o testemunho da natureza expansiva do reino, que é como uma semente que cresce e se torna uma árvore grande (Mt 13:31-32).

Portanto, o círculo não é algo que fazemos somente de um passo para o próximo. Cada círculo possui valores do reino e isso continua à medida que adicionamos mais círculos.

Além disso, o grande mandamento (de amarmos uns aos outros) e a grande comissão (de compartilhar o evangelho) são unidos em uma única forma de missão integrada.

O “ciclo de amar primeiro” ressoa com os cinco marcos de missão que são usadas em alguns círculos:

Falar

aos outros sobre Jesus.

Ensinar

e batizá-los na fé.

Atender

às necessidades pastorais das pessoas.

Transformar

as estruturas injustas da sociedade.

Apreciar

o mundo natural.

O ciclo inclui e estende esses pontos. E, mais importante ainda, os junta em um único processo. Em vez de somente listar os ingredientes da missão integral, ele oferece um caminho para se chegar lá. Os marcos são substituídos por passos.

Temos então uma das contribuições das “novas expressões”. Em vez de novas dimensões florescerem após o estabelecimento de uma nova congregação, elas estão presentes desde seu nascimento.

Missão em todos os lugares

Apesar de ainda haver muito para se aprender, para a igreja mundial a significância das “novas expressões” é que elas podem apoiar as missões em praticamente qualquer contexto.[2]

  • Missão no trabalho? Novas comunidades cristãs surgiram entre pessoas que trabalham em escritórios, pacientes de um consultório médico, e, quando permitido, em escolas.
  • Missão entre pessoas que estão em situação de rua? Entre mulheres que foram abusadas? Pessoas requerentes de asilo? Adolescentes que usam drogas? Pessoas com dificuldades de aprendizado? Uma equipe pequena pode prestar atenção, amá-los, construir uma comunidade com eles, apresentar os interessados a Jesus, encorajá-los em uma comunidade segura e que afirma o cristianismo para emergir e trazer essa comunidade como um presente para a igreja mais ampla.
  • Ação missionária pelo ambiente ou justiça social? Os cristãos podem ouvir pessoas fora da igreja que compartilham de suas preocupações, encontrando formas de trabalharem juntos e ao fazer isso, explorar como a espiritualidade do cristianismo adiciona uma cor especial ao seu envolvimento compartilhado.
  • Missão para uma vida completa? Esporte? Passear com o cachorro? Cantar? Consertar bicicletas? “Novas expressões” estão conectando pessoas com esses e outros interesses.
  • Missão num vilarejo? Em uma cidade pequena? Em um bairro com diversas carências? Ou então dentro de uma minoria étnica? Novos encontros cristãos estão oferecendo suas vozes nesses ambientes.
  • Missão através de uma plantação convencional de igrejas? As “novas expressões” também possuem um papel nesse cenário. Quando a nova igreja estiver estabelecida, os membros podem perguntar: “Quem não estamos alcançando?” e começar grupos de “novas expressões” entre os grupos identificados. Para pessoas com problemas físicos ou mentais, ou trabalhadores da indústria do sexo, ou motoristas de táxi, ou migrantes, uma pequena comunidade dedicada a eles pode ser exatamente o que eles precisam. Mais para a frente, os líderes podem tirar uma equipe destas comunidades para começar uma igreja em outra região.

“Novas expressões” revelam Cristo em qualquer lugar, e através de qualquer pessoa.

“Novas expressões” revelam Cristo em qualquer lugar, e através de qualquer pessoa. Em Efésios 1:23 temos a promessa de que quando Cristo retornar, ele irá encher – ou completar – todas as coisas. Quando os cristãos, como o corpo de Cristo, começarem novas comunidades cristãs nas diversas configurações da vida, eles demonstrarão o futuro, nos mostrando que não existe esfera que Cristo e sua igreja não podem fazer seu lar.

Um jovem adulto de Pittsburgh, Pensilvânia, descreveu como foi criado em uma família cristã. Em sua adolescência acabou se afastando da igreja. Ele amava jogos de computador. Em um jogo ele tinha que ganhar peso para poder atravessar uma ponte. Uma mensagem disse que ele poderia atravessar a ponte de graça se assistisse a um vídeo. O vídeo era sobre graça.

O jovem assistiu ao vídeo e foi convidado para um grupo de estudo bíblico online, do qual ele participou. Mais para frente, ele se reconectou com a igreja off-line. Os cristãos podem estar presentes de forma comunal em todos os setores da vida, até em um jogo de computador!

Complementação

Na maioria dos casos, as “novas expressões” podem ser compreendidas como comunidades ou congregações de uma igreja existente.

Na maioria dos casos, as “novas expressões” podem ser compreendidas como comunidades ou congregações de uma igreja existente. Não são melhores que congregações tradicionais, mas sim as complementam.

Congregações mais antigas conectam as pessoas às margens da igreja. Elas salvaguardam e repassam a tradição. As “novas expressões” articulam a tradição de formas inovadoras em contextos não alcançados. Ambos podem florescer lado a lado em amor e apoio mútuo.

À medida que continuamos a trabalhar para compreender as implicações dessas novas comunidades, podemos antecipar uma “economia mista” de congregações tradicionais, congregações revitalizadas e as novas formas criativas de louvor, juntamente com plantação tradicional de igrejas e as novas expressões?[3]

Notas

  1. Graham Cray, ed., Mission-Shaped Church (London: Church House Publishing, 2004).
  2. Nota da Editora: Veja o artigo de Allen Yeh: “O futuro das missões é de todos para todos os lugares” na edição de janeiro de 2018 da Análise Global de Lausanne, https://lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2018-01-pt-br/o-futuro-de-missoes-e-de-todos-para-todos-os-lugares 
  3. Fresh expressions have been criticized theologically by Andrew Davison and Alison Milbank, For the Parish: A Critique of Fresh Expressions (London: SCM, 2010); John M. Hull, Mission-Shaped Church: A Theological Response (London: SCM, 2006); John Milbank, “Stale Expressions: The Management-Shaped Church”, Studies in Christian Ethics 21:1 (2008), 117-28; Martyn Percy, “Old Tricks for New Dogs? A Critique of Fresh Expressions” in Evaluating Fresh Expressions: Explorations in Emerging Church, ed. Louise Nelstrop and Martyn Percy (Norwich: Canterbury, 2008), 27-39. For a response see Michael Moynagh, Church for Every Context: An Introduction to Theology and Practice (London: SCM, 2012); Fresh Expressions in the Mission of the Church: Report of an Anglican-Methodist Working Party (London: Church House Publishing, 2012).

O Rev. Dr. Michael Moynagh é um ministro da Igreja Anglicana em Wycliffe Hall, Oxford, e é um teólogo que lidera nas novas expressões. Seus livros incluem: Church for Every Context (2012), Being Church, Doing Life (2014), e Church in Life: Innovation, Mission and Ecclesiology (2017) [em tradução livre: Uma igreja para cada contexto (2012), Sendo igreja, vivendo a vida (2014), e Vida da igreja: inovação, missão e eclesiologia (2017)]. Ele pode ser contatado via [email protected] .