Global Analysis

Visão Geral – Julho 2023

Loun Ling Lee jun 2023

Vivemos em um mundo de conflitos. Em muitos desses conflitos, as rivalidades étnicas ou religiosas, bem como os interesses territoriais ou políticos, são usados como justificativas para a agressão e a violência, levando dor e sofrimento a vítimas inocentes. Os dois primeiros artigos enfatizam a necessidade de respostas teológicas e práticas à guerra e ao conflito, pois o evangelho pode trazer esperança e paz às mais difíceis situações.

Em “Vivendo o evangelho em zonas de conflito: A ação de Deus no leste do Congo”, Eraston K. Kighoma e CJ Davison analisam algumas das “informações valiosas sobre a contextualização da obra missionária por igrejas e líderes locais durante as recentes guerras naquela região”. Os cristãos congoleses entenderam a partida dos missionários transculturais em decorrência da guerra como uma oportunidade que Deus lhes proporcionava de serem enviados como “missionários para o ministério transcultural tanto dentro de suas fronteiras quanto além delas”. Isso envolveria “o discipulado contextual que lida com o crescimento espiritual, a esperança e as preocupações sociais, incluindo a pobreza e a coexistência pacífica”. Os autores testemunharam a ação de Deus em meio à guerra: vidas foram impactadas pelo perdão de seu povo que escolheu “se reconciliar com aqueles que os perseguem, restaurando o shalom ao seu mundo corrompido”.

“A tragédia da guerra e o desastre humanitário se tornaram um momento de capacitação para a comunidade batista – um momento de ressurgimento pós-COVID – trazendo novo fôlego às igrejas nos países ao redor da Ucrânia” escreve Alan Donaldson em “Reflexões sobre a resposta batista à guerra na Ucrânia: Um momento de capacitação, democratização e integralidade”. À medida que as forças russas invadiam a Ucrânia, as igrejas batistas abriam suas portas e acolhiam refugiados, fornecendo-lhes alimento, abrigo, e suprindo outras necessidades básicas. Além do cuidado físico, o cuidado espiritual também era oferecido com “gentileza e respeito”. A crise levou a uma democratização da igreja, pois todos os membros se uniram para oferecer apoio os necessitados. O autor reflete sobre como essa crise revela a natureza mutável da obra missionária e da eclesiologia batista europeia – a mudança do “papel dos pastores no contexto da comunidade, especialmente além das pessoas que constituem a igreja” e a crescente “interdependência das igrejas batistas locais” em todo o mundo.

O papel de todo o povo de Deus em promover a justiça racial é exemplificado em “Justiça racial no México e na América Latina: Desafios e oportunidades para a obra missionária”, de Dinorah B. Méndez. A autora argumenta que o racismo está presente em vários aspectos da vida no México e na América Latina e pode ser praticado de forma consciente ou inconsciente. Dois exemplos são destacados: a opressão estrutural dos povos indígenas nativos e a discriminação contra migrantes de pele mais escura. Ela observa que o impacto da igreja na questão do racismo é misto, mas as igrejas em Ciudad Juárez têm colaborado com a sociedade civil e a comunidade para prestar assistência aos migrantes. Ela conclui recomendando que incluamos “uma perspectiva de justiça na missão de nossa igreja” e tenhamos “uma estratégia bem planejada” que exporá “os sistemas sociais injustos que facilitam as injustiças tanto na sociedade quanto em nossas igrejas”.

“A missão de Deus é holística; abrange tanto as necessidades espirituais quanto as físicas.”Essa convicção está ilustrada no artigo de Sam Cho “Uma visão holística da obra missionária em tempos de mudança: O movimento Life as Mission na Coreia”. Enfrentando os desafios do declínio do cristianismo e da obra missionária na Coreia, a Mission Korea, uma iniciativa de mobilização de jovens, lançou um projeto de pesquisa para desvendar o futuro da obra missionária. A equipe de pesquisa propôs-se a desenvolver um questionário que incluísse atividades além do evangelismo e da plantação de igrejas, temas que, no passado, foram o foco da obra missionária coreana. Foram sugeridas três implicações para as futuras tendências na obra missionária da igreja coreana: “missão de todos”, “missão na arena pública”, e “missão integral”. “O Deus da missão que restaura o mundo também opera na vida de uma pessoa e por meio dela”.

Esperamos que os artigos desta edição sirvam de evidências da natureza mutável do trabalho missionário e do papel da igreja. À medida que mudam a natureza do trabalho missionário e os desafios enfrentados pela igreja, é crucial que mantenhamos um espírito flexível e inovador para encontrar novas maneiras de servir aos outros e de propagar a todo o mundo a mensagem do amor de Deus. A Análise Global de Lausanne está disponível em portuguêsespanholfrancêscoreano. Quaisquer perguntas e comentários a respeito desta edição devem ser enviados a analysis@lausanne.org. A próxima edição será lançada em setembro de 2023.

Autoria (bio)

Loun Ling Lee

Loun Ling Lee é a editora da Análise Global de Lausanne. Ensina “Leitura Missionária da Bíblia” e “Engajamento com as Religiões do Mundo” na Malásia e no Reino Unido. Anteriormente, foi professora de missões no Redcliffe College, Reino Unido, diretora de treinamento da AsiaCMS com sede na Malásia, mobilizadora de missões com a OMF e pastora da Grace Singapore Chinese Church. Hoje, ela faz parte do conselho da OMF Reino Unido.