Global Analysis

Inteligência artificial e discipulado

uma nova fronteira tecnológica a explorar

Thomas Osborn & Michael Meiser out 2025

Ao longo dos séculos, a igreja tem adotado novas ferramentas para o cumprimento da Grande Comissão. A prensa tipográfica colocou as Escrituras nas mãos das pessoas comuns. O rádio e a televisão levaram o evangelho a nações inteiras. A internet conectou crentes e pessoas em busca da fé de todas as partes do mundo. Cada avanço tecnológico foi transformando o discipulado, trazendo oportunidades e riscos.

Como aconteceu com a prensa tipográfica ou o smartphone, a questão que se coloca diante de nós não é se a IA influenciará o discipulado, mas como iremos administrá-la.

Hoje, a Inteligência Artificial (IA) representa a mais recente mudança nessa trajetória. Assim como as tecnologias do passado, a IA não é inerentemente boa nem má; seu impacto depende da sabedoria, do discernimento e da ética de quem a utiliza.  Como aconteceu com a prensa tipográfica ou o smartphone, a questão que se coloca diante de nós não é se a IA influenciará o discipulado, mas como iremos administrá-la.

Da prensa tipográfica à digitação preditiva

Já vimos a IA incentivar ações oportunas e relacionais no dia a dia. Recentemente, durante um treino, o celular de um amigo sugeriu que ele enviasse uma mensagem de encorajamento a alguém que se recuperava de uma cirurgia. Em poucos segundos, ele enviou a mensagem. A tecnologia o ajudou a demonstrar amor pelo seu irmão de uma forma mais prática e eficaz.

Esse exemplo simples revela o potencial da IA para ajudar os cristãos a agir de maneiras que reflitam o amor de Cristo. Assim como os avanços tecnológicos do passado transformaram a vida da igreja, a revolução da IA pode enriquecer o discipulado, especialmente na construção de relacionamentos pessoais, na educação e na formação, que são áreas essenciais para ajudar alguém a se tornar mais semelhante a Jesus. 1

Apresentando a IA e o discipulado

A inteligência artificial está transformando, em ritmo acelerado, a maneira como aprendemos, nos comunicamos e tomamos decisões, e a igreja não está imune a essa influência. Assim como a prensa tipográfica e a internet, que em seu tempo revolucionaram o discipulado, a IA agora traz novas oportunidades e provoca reflexões sobre o crescimento dos cristãos em Cristo. Em sua essência, o discipulado é relacional e direcionado pelo Espírito; nosso desafio é discernir como empregar essas novas ferramentas com sabedoria, a fim de que fortaleçam, e não distorçam, o chamado de seguir Jesus.

IA a serviço do discipulado: caminhos práticos

Com base em nosso trabalho com tecnologia aplicada à igreja e em nossa atuação como fundadores da DiscipleIQ,2 identificamos diversas oportunidades impulsionadas pela IA que se alinham ao referencial ético apresentado no artigo introdutório desta série. Essas oportunidades incluem, mas não se limitam a:

  • Criação de perfis de aprendizagem – A IA pode ajudar líderes a compreender melhor aqueles a quem discipulam, construindo perfis pessoais precisos e baseados em consentimento. Percepções sobre estilos de aprendizado, personalidade e necessidades permitem um ensino e mentoria mais eficazes.
  • Conexão entre mentores e mentorados – O pareamento impulsionado por IA pode conectar pessoas com mentores ou professores com maior potencial para promover crescimento, de forma semelhante aos sistemas de compatibilidade usados em outros setores.
  • Personalização das jornadas de aprendizado – Em vez de aplicar o mesmo currículo para todos, a IA pode ajudar a adaptar os caminhos de discipulado às necessidades, competências e ao estágio de fé de cada indivíduo.
  • Orientação e feedback no momento certo – A IA preditiva pode sugerir que líderes ofereçam encorajamento ou correção em momentos de maior impacto, refletindo o discernimento dirigido pelo Espírito.

Cada uma dessas oportunidades envolve aplicação de considerações éticas, e exigem que sejam desenvolvidas com atenção à privacidade, ao consentimento e à saúde dos relacionamentos.

Questões éticas essenciais que os líderes devem considerar

Antes de adotar ferramentas de discipulado baseadas em IA, os líderes devem avaliar com cuidado se a tecnologia fortalece ou enfraquece a própria essência do discipulado: os relacionamentos autênticos. A vocação da igreja não é a eficiência, mas a formação, e as ferramentas devem ser avaliadas sob essa perspectiva. Algumas perguntas que valem ser feitas incluem:

  • Esta aplicação está alinhada com os valores bíblicos e reforça a dignidade humana? A IA jamais deve reduzir as pessoas a meros pontos de dados. Cada recurso deve refletir a verdade de que fomos criados à imagem de Deus e chamados a viver em relacionamento com ele e uns com os outros.
  • Esta aplicação fortalece ou enfraquece os relacionamentos autênticos na igreja? O discipulado não pode ser terceirizado para algoritmos. Os líderes devem se perguntar se a ferramenta lhes permite dedicar mais tempo presencial e significativo com as pessoas, ou se há o risco de substituir essa presença por interações automatizadas.
  • A privacidade, o consentimento e a transparência estão incorporados em seu design e uso?  Nos relacionamentos autênticos a confiança é fundamental. Quando as pessoas sabem que seus dados estão seguros e que sua participação é voluntária, elas se mostram mais dispostas a se engajar profundamente na comunidade.
  • Quem assume a responsabilidade e supervisão das decisões tomadas com o apoio da IA?
    A IA pode sugerir conexões ou recursos, mas não é capaz de discernir o coração. Os líderes devem revisar e aprovar as recomendações em espírito de oração, garantindo que as decisões permaneçam fundamentadas na sabedoria pastoral e no cuidado pessoal.

A vocação da igreja não é a eficiência, mas a formação, e as ferramentas devem ser avaliadas sob essa perspectiva.

AskAo fazer essas perguntas, mantemos a tecnologia em seu verdadeiro papel: serva do ministério, nunca sua mestra. Dirigida por esse discernimento, a IA pode contribuir para remover obstáculos que impedem relacionamentos genuínos, possibilitando aos líderes dedicar tempo precioso para conhecer, amar e caminhar ao lado daqueles a quem discipulam.

Como a DiscipleIQ está enfrentando esse desafio

Nossa missão na DiscipleIQ é ajudar as igrejas a conectar pessoas de forma mais pessoal e discipular com mais eficácia. Vemos a IA como uma ferramenta para fortalecer relacionamentos guiados pelo Espírito, não para substituí-los.

Nossa plataforma utiliza um sistema de pareamento assistido por IA para conectar pessoas com base em localização, personalidade, fase da vida, carreira, idioma, origem cultural e dons espirituais. Os líderes mantêm controle total, revisando previamente cada recomendação. A privacidade é protegida, o consentimento é explícito e o objetivo é sempre aprofundar relacionamentos, e não automatizá-los.

Por exemplo:

  • Os perfis de membros ajudam os líderes a conhecer melhor as pessoas às quais servem.
  • Os sistemas de pareamento criam relacionamentos de mentoria com maior potencial de crescimento.
  • As recomendações de conteúdo orientam jornadas de aprendizado adaptadas a cada pessoa.
  • Alertas e lembretes garantem que o cuidado aconteça no momento certo.

Todos esses princípios estão ancorados em confiança, transparência e integridade teológica.

Avançando com sabedoria e fé

A IA não vai esperar que a igreja a acompanhe.  As ferramentas já existem. A escolha diante de nós é se vamos usá-las de forma ponderada ou correr o risco de perder oportunidades para o avanço do reino.

A IA não vai esperar que a igreja a acompanhe.  A escolha diante de nós é se vamos usá-las de forma ponderada ou correr o risco de perder oportunidades para o avanço do reino.

Acreditamos que avançar exige imaginação e cautela: imaginação para descobrir como a IA pode potencializar a tarefa de fazer discípulos, e cautela para assegurar que cada aplicação permaneça fiel às Escrituras, centrada em Cristo e dedicada a relacionamentos autênticos e pessoais.

A história nos mostra que a igreja sempre se adaptou às novas tecnologias. A era da IA não será diferente desde que a enfrentemos com convicção bíblica, priorizando relacionamentos e comprometidos em usar essas ferramentas para a glória de Deus.

Notas finais

  1. Thomas Osborn, “AI Can Help Christians Make Better Disciples,” AI & Faith, June 6, 2024, aiandfaith.org/insights/ai-can-help-christians-make-better-disciples/.
  2. DiscipleIQ. Accessed August 9, 2025. discipleiq.com.

Autoria (bio)

Thomas Osborn

Thomas Osborn é estrategista de tecnologia e ex-executivo em plataformas digitais voltadas para educação, treinamento e discipulado na igreja. Ele é cofundador da DiscipleIQ e conselheiro da AI & Faith, onde aplica décadas de experiência em serviços financeiros, desenvolvimento de software e inovação ministerial para ajudar comunidades de fé a explorar as tecnologias emergentes com sabedoria e propósito.

Michael Meiser

Michael Meiser é cofundador da DiscipleIQ, uma plataforma SaaS que ajuda igrejas a conectar pessoas em relacionamentos significativos de discipulado por meio de correspondência orientada por dados e caminhos personalizados. Ele tem um mestrado em Teologia (ThM) pelo Dallas Theological Seminary e anos de experiência em educação teológica, estratégia e tecnologia ministerial. A paixão de Michael é capacitar líderes a discipular mais pessoas, de forma mais pessoal, na era digital.