Global Analysis

Visão geral – Janeiro 2024

Michael Soderling dez 2023

Desde que decidiu tornar-se como Deus e comer do fruto, a humanidade tem sido afligida por enfermidades. O relacionamento rompido entre Deus e o ser humano foi o primeiro exemplo de enfermidade e sofrimento que o mundo já conheceu. Uma forma de sofrimento que começou com uma ruptura espiritual de um relacionamento perfeito com o Criador do universo e acabou levando ao comprometimento mental e físico. A igreja tem um chamado invariável para curar e restaurar aqueles que estão sofrendo ao seu redor? Se cremos em seu chamado com tal foco ministerial, como ele deveria ser demonstrado na vida real? O chamado visa ajudar a suprir as necessidades da pessoa de forma integral – mente, corpo e espírito? Como esse chamado pode ser cumprido paralelamente às iniciativas do mundo que visam o mesmo objetivo? E talvez a pergunta mais importante, esse chamado pode ser aplicado ao desafio final de tantos grupos etnolinguísticos, comumente conhecidos como “grupos de povos”, que ainda não ouviram o testemunho das boas novas de Jesus, o Messias?

Em A igreja e o cuidado integral: Por que a igreja deve impactar a sociedade, Florence Muindi nos inspira com o relato de como a sua visão do chamado da igreja para ministérios de assistência e cuidados com a saúde, cura e integralidade evoluiu em consequência de situações difíceis. Enquanto estava envolvida em muitas atividades ministeriais, seu coração ficou partido ao ver crianças que viviam nas ruas, a poucas quadras da sede missionária, trêmulas de frio, vasculhando o lixo, lutando para sobreviver. Depois de muita batalha mental, ela decidiu que, em vez de abrir um orfanato e dar início a um programa de alimentação e ministério de cuidado de crianças em situação de vulnerabilidade, ela ajudaria a igreja local a compreender e abraçar o seu chamado para cuidar da pessoa como um todo. 

A escritora, professora e profissional da saúde mental, Karen Bomilcar, traz uma perspectiva holística ao papel da igreja na abordagem de questões de saúde mental em Saúde mental e comunidade cristã: Na direção da interdisciplinaridade e saúde integral. De forma apropriada, Karen destaca o desafio sempre presente da mentalidade dualista que continua a afligir a igreja. Os seres humanos são almas encarnadas e necessitam que seus problemas de saúde sejam tratados com essa perspectiva. Durante muito tempo, os problemas de saúde mental foram ignorados pela igreja, em consequência da visão comum de que não é possível sofrer de problemas de saúde mental quando se crê em Jesus. Sentir-se deprimido ainda é considerado por muitos como um exemplo de falta de fé. Karen nos ajuda a ver como a igreja pode ser uma verdadeira parceira no enfrentamento das questões de saúde mental em nossas comunidades por meio de uma abordagem interdisciplinar.

O mundo em que são realizadas as “missões tradicionais de assistência e cuidados com a saúde” tem mudado rapidamente. E devemos reconhecer que os velhos paradigmas do que constitui esse tipo de obra missionária talvez já não se apliquem à maioria das regiões do mundo. Essa análise instigante é apresentada em A nova face das missões de assistência e cuidados com a saúde: Oportunidades e desafios do século 21, de Nyalpi Nungarai. Há uma mudança em andamento: a incidência de doenças infecciosas conhecidas está em declínio, enquanto a taxa de casos de doenças da afluência aumenta dramaticamente. A autora oferece sugestões úteis para sermos mais eficazes nas nossas iniciativas voltadas à assistência e aos cuidados com a saúde para com nosso próximo e conclui enfatizando o papel fundamental que todos podemos desempenhar na resolução dos complexos problemas de saúde que o mundo enfrenta hoje.

Em Histórias não contadas: A intersecção entre saúde física e espiritual nos povos de fronteira, Jason Lee mostra a vantagem de associar as estatísticas disponíveis, como, por exemplo, o índice de desenvolvimento humano divulgado por agências seculares de desenvolvimento, e as estatísticas de organizações como o Joshua Project. Ele destaca que ainda há muito a se aprender analisando-se os locais onde as pessoas enfrentam mais dificuldades no campo da saúde – principalmente entre os grupos de povos de fronteira (do inglês Frontier People Groups, FPGs). Reconhecendo o efeito positivo da introdução de uma cosmovisão bíblica na definição de bem-estar do ser humano, ele convida a igreja, em seus esforços para alcançar os FPGs, a procurar nichos nesses contextos nos quais seja possível adotar formas encarnacionais de evangelismo que imitem o modelo de cuidado da pessoa como um todo demonstrado por Jesus. Jason sugere: “Grupos próximos ou igrejas de discípulos já existentes devem tornar-se centros de desenvolvimento e saúde, não necessariamente por meio da contratação de profissionais de saúde ou da implantação de dispensários, mas replicando o paradigma de Jesus de entrelaçar na vida diária dos discípulos a saúde espiritual, física, mental, emocional e social, em um nível que os discípulos locais possam reproduzir e manter”.

A Análise Global de Lausanne está disponível em inglêsespanholfrancêscoreano. Quaisquer perguntas e comentários a respeito desta edição devem ser enviados a analysis@lausanne.org. A próxima edição será lançada em março de 2024.

Autoria (bio)

Michael Soderling

Michael Soderling atuou como obstetra/ginecologista por dez anos antes de seguir o chamado de Deus para servir na América Central por onze anos. Ao retornar aos EUA em 2012, Mike assumiu o cargo de Diretor de Saúde para Todas as Nações, um projeto da Frontier Ventures. Faz parte do seu chamado: conectar, convocar e catalisar em direção ao objetivo da saúde (shalom) para todas as nações (ethne). Desde 2013, ele tem sido co-catalisador da Rede Temática “Saúde para Todas as Nações” do Movimento de Lausanne. Mike mora com sua esposa e filha em Milwaukee, Wisconsin.